As Ruínas da Lagoinha estão localizadas na região sul de Ubatuba e são compostas pelo que restou do antigo engenho da Fazenda do Bom Retiro, e dos pilares da suposta primeira fábrica de vidros do Brasil, estes na entrada de um condomínio na beira da rodovia Rio-Santos na Praia da Lagoinha.
A Fazenda do Bom Retiro
Localizada a 23,9 km do centro de Ubatuba e a 1 km da rodovia Rio-Santos no bairro da Lagoinha, refugiada no emaranhado de grandes raízes, está a Fazenda do Bom Retiro, de 2.400 m², com suas ruínas em pedra e cal construídas provavelmente no início do século XIX (em 1828), por um dos primeiros proprietários da Lagoinha, o engenheiro francês Stevenné.
Enriquece a paisagem local, algumas árvores centenárias e a forma como a floresta “abraça” as ruínas, envolvendo-as com suas raízes, troncos e folhas.
Impressiona o cenário artístico e convidativo para produções fotográficas, que após reveladas parecem pinturas.
Estas ruínas são remanescentes de uma Ubatuba próspera, quando seu porto exportava a produção Vale Paraibana, trazida pelos tropeiros. Nesta fazenda foram produzidas toneladas de açúcar e cachaça pela mão-de-obra escrava.
Nesse período, muitos estrangeiros foram atraídos para a abastada Vila da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba. O engenheiro francês criou na Lagoinha um engenho, uma grande fazenda modelo, para o ensino de novas técnicas de fabricação de açúcar e introdução e propagação de carneiros merinos para a produção de carvão animal.
Esta fazenda entrou em decadência por volta de 1850, com a evolução das técnicas agrícolas. Um importante proprietário desta fazenda, foi o Capitão Romualdo, já no final do século XIX, dono de plantações de café e cana de açúcar, fabricante e exportador de aguardente e açúcar mascavo.
O Capitão morava no casarão da fazenda com sua esposa Mariana, e não tiveram filhos, mas tratava todos os que lhes serviam como seus parentes, e a sua fama honrosa não foi só por sua riqueza mas, sim, por sua humanidade com os negros escravos. No “Solar do Capitão” como era conhecida a Fazenda, seus escravos faziam as refeições na mesa principal, e aos sábados pela manhã, tiravam sua hora de lazer na Praia da Lagoinha.
Quando a Lei Áurea vigorou, nenhum trabalhador, não mais escravo, abandonou os serviços da fazenda, ganharam a liberdade com a Abolição da Escravatura, mas sem terem para onde ir e por gratidão e amizade, permaneceram até o falecimento do fazendeiro, deixando a fazenda tempos depois de sua morte, quando sua esposa, não suportando sua falta, veio a enlouquecer.
Em 1986, as Ruínas da Lagoinha foram tombadas pelo Condephaat como Engenho Bom Retiro e hoje, estão sob os cuidados da Fundart.
Primeira Fábrica de Vidros do Brasil
O Capitão Romualdo planejava exportar aguardente e necessitava vasilhames, foi assim que deu-se início à construção de uma fábrica de garrafas, na entrada do atual Condomínio Lagoinha. Uma obra que não foi concluída, e que permanece em pé três pilares (colunas de sustentação) em pedra e cal, parte de um conjunto maior, de oito ou mais pilares que definem um edifício retangular com 18 metros de largura por 50 ou 60 metros de comprimento.
Os pilares que restaram têm aproximadamente dez metros de altura e há furos para recebimento de vigas de madeira a seis metros do solo. Não é possível determinar se essa estrutura pertencia ou não a uma “fábrica de vidro“, por outro lado, o pé-direito de quase seis metros é pouco comum para uso exclusivamente residencial.
As informações dão conta que o negócio apenas não prosperou porque o governo de Portugal exigiu que as garrafas no Brasil fossem importadas. Estas Ruínas da Lagoinha fazem da região, um ponto histórico que nos trazem reflexões do passado, em um ambiente de beleza marcante e natural.