O Projeto Juçara se fundamenta na divulgação e expansão da utilização dos frutos da palmeira juçara para produção de polpa alimentar e seu uso na culinária, consolidação de sua cadeia produtiva, por meio da difusão do manejo sustentável da juçara para geração de renda, associada a atividades de recuperação da espécie e da Mata Atlântica, e a reconversão produtiva de áreas, contribuindo com a fixação de carbono.
O projeto é fruto da construção conjunta com as comunidades rurais e tradicionais onde as instituições atuam, com apoio de parceiros locais, sendo elas foco deste projeto. O projeto tem objetivos de consolidação, recuperação e monitoramento da espécie, utilizando metodologias participativas e articulação em rede que envolve outras instituições em diversos estados brasileiros, além de diversas ações de divulgação e comunicação do projeto e seus resultados. A metodologia proposta procura estimular a participação das comunidades e agricultores em todas as etapas dos projetos e dos empreendimentos, para que possuam uma visão completa de todas as fases da cadeia produtiva.
Procura-se garantir as atividades produtivas e extrativistas tradicionais problematizando as realidades de conservação dos recursos naturais, dos mercados, do planejamento, das formas de organização e de associativismo e da contabilidade das atividades e dos resultados. Estabelece-se uma visão sistêmica dos seus empreendimentos, subdivididos em 3 segmentos: a produção de matérias primas, a transformação dos produtos e a comercialização.
Projeto Juçara em Ubatuba
O Projeto Juçara, realizado pelo IPEMA em parceria com AKARUI, está fazendo o plantio de sementes da palmeira juçara, na Mata Atlântica, em Ubatuba. A juçara é mais conhecida pelo seu palmito, muito apreciado pelos consumidores e, por isso, corre perigo de extinção. O Quilombo do Cambury realizou o plantio em diversas áreas da Mata Atlântica, onde a comunidade reside. Veja equipe e comunidade trabalhando juntas. Outros locais, como Ubatumirim, Praia Grande do Bonete e Quilombo da Fazenda também estão realizando ações de repovoamento da espécie, usando parte das sementes.
Estas comunidades também estão produzindo mudas da palmeira através de viveiros comunitários e familiares implantados com apoio do projeto, estas mudas também são destinadas a garantir a recuperação da espécie na região. Em parceria com o Parque Estadual da Serra do Mar e Fundação Florestal, o projeto realiza ações de repovoamento de juçara no interior do parque, onde equipes de guardas parque em conjunto com monitores e equipe do projeto realizaram, no Núcleo Picinguaba, plantio nas trilhas do Parque Estadual da Serra do Mar. O Projeto Juçara tem o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. Você já experimentou a polpa da juçara batida com banana e cambuci? E com peixe? Se não, está em tempo. É muito nutritiva e saborosa!
Polpa da Juçara
A polpa muito similar ao açaí originário da Amazônia, é extraída a partir dos frutos desta palmeira. A polpa oferecida pelos frutos da Juçara é um importante passo para a sustentabilidade econômica e ambiental local. A colheita é realizada sem causar danos à planta e toda a polpa produzida resulta na produção de sementes para plantio e repovoamento da espécie. Além de ser um produto ecológico, é rico em nutrientes e flavonóides, especificamente antocianinas, que são antioxidantes e anti-radicais livres, responsáveis pela prolongação da vida das células, retardamento do envelhecimento, melhor circulação sanguínea, aumento das defesas imunológicas, e possuem a capacidade de adiar perdas de visão e diminuição dos efeitos da doença de Alzheimer.
Como referência a vitamina de polpa de juçara com banana foi introduzida na merenda dos alunos das creches de Ubatuba, escolhida por seu valor nutricional, a juçara foi aprovada pelas crianças em teste de aceitabilidade.
Palmeira Juçara
O Brasil, várias palmeiras produzem palmito comestível. Entre elas, a espécie mais conhecida e apreciada é comumente chamada de palmiteiro juçara ou jiçara, produtora do palmito branco. A palmeira Juçara (Euterpe edulis – Arecaceae) é uma espécie de extrema importância para a biodiversidade da Mata Atlântica. Seus frutos servem de alimento para mais de 70 espécies de animais e aves, sendo considerada espécie chave para a conservação de florestas no Bioma.
O alto valor comercial do palmito faz dele um dos produtos florestais mais explorados há séculos, e para sua obtenção é necessário o corte da palmeira. Devido ao extrativismo predatório e ilegal do palmito, a planta é cortada antes mesmo de se reproduzir, causando um grande impacto na regeneração natural. Hoje, a espécie passa por um momento crítico pela expressiva redução de suas populações naturais e está incluída na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2008).
A escolha da Palmeira Juçara aliada à dispersão de sementes, presença de avifauna e condições específicas (umidade, sombra e calor) para sua ocorrência, promove, junto com ela, a preservação e ampliação de seu habitat natural, a Mata Atlântica. A preservação e recuperação deste bioma asseguram o seu papel ecológico de regulação do fluxo dos mananciais, manutenção da fertilidade do solo, fixação de carbono, proteção das encostas das serras e alta variabilidade genética.
É encontrada na Região Centro-Sul do País e no Estado de São Paulo, é nativa da Mata Atlântica e está ameaçada de extinção. As palmeiras juçara, a pupunheira e o açaizeiro, são as três principais palmeiras produtoras de palmito e apresentam a particularidade de também produzir frutos de alto valor nutritivo e econômico. Porém, o maior consumo dos frutos dessas palmeiras, principalmente a pupunha e o açaí, ocorre nas regiões onde elas são nativas. O uso da polpa dos frutos da juçara ainda está sendo fomentado, mas já tem grande aceitação. Análises realizadas por laboratório especializados atestaram o valor nutritivo do fruto da juçara, comparado ao do açaí como mostra a tabela abaixo:
Processamento das sementes
As sementes recolhidas após o processo de despolpa são lavadas para a retirada total do bagaço e colocadas para secar lentamente à sombra, sendo classificadas como “comuns” e “matrizes”. As sementes comuns são provenientes de palmeiras regulares, sem características especiais. Já as sementes de matrizes são colhidas em palmeiras que se diferenciam das outras por estarem visualmente livres de doenças, possuírem estipe reta e vigorosa, grande número de cachos, cachos grandes e frutos bem carnosos. Além disso, as matrizes devem se distanciar no mínimo 30 metros de outras matrizes. Seguindo este processo, as sementes são consideradas um importante produto do manejo dos frutos, sendo destinadas ao repovoamento da espécie.
Depois de beneficiadas, elas podem ser colocadas para germinar em sementeiras (caixas contendo matéria orgânica e areia), em saquinhos de mudas ou semeadas diretamente no local definitivo, podendo ser a lanço ou enterradas superficialmente (enterrio). Devido à facilidade de germinação das sementes, a semeadura a lanço é a técnica mais aconselhada para se fazer o repovoamento para fins Ecológicos em Zonas de Recuperação e trilhas de acesso em Unidades de Conservação e capoeiras, manejadas ou não, proporcionando a oferta de alimentos para a fauna e a conservação do bioma.
Já o enterrio de sementes e o plantio de mudas, de raiz nua ou não, são as técnicas empregadas para fazer o repovoamento para fins Ecológico-Econômicos em áreas de agricultores familiares, comunidades tradicionais e aldeias indígenas. Estas técnicas permitem “escolher” o local onde serão colocadas as palmeiras com o intuito de facilitar a colheita dos frutos e não prejudicar as outras culturas presentes.
A inserção da palmeira Juçara em bananais tradicionais e agro florestas e o consórcio com outras frutíferas como cambuci, bacupari, araçá, cambucá, grumixama, pitanga, pupunha e jambo, são propostas de manejo que se mostram altamente produtivas em comparação com o manejo em capoeiras. Deve-se dar preferência para as sementes de palmeiras matrizes para os plantios ecológico-econômicos, buscando maior produção e qualidade dos produtos.
Assim as sementes representam uma importante ferramenta para o planejamento da propriedade familiar, além de garantir o uso do território e agregar valor à cadeia de produção da polpa da juçara.
Fonte de Informações:
https://ipemablog.wordpress.com/projeto-jucara/