Poucas cidades têm a ventura de possuir, entre seus filhos, homens como João Diogo Esteves da Silva. Modelo de firmeza, de honestidade e de abnegação, seu exemplo é um incentivo às gerações vindouras, sua vida uma das mais puras glórias de Ubatuba. Desde moço lutando com as dificuldades da pobreza, Esteves da Silva não se amedrontou ao encarar a vida. Ela era áspera e ingrata, ele, moço e confiante em seu próprio valor! Formado em medicina, com mil dificuldades, não se limitava aos deveres do ofício. Seu patriotismo dava-lhe forças para as mais grandiosas realizações.
Compreendendo nitidamente que o magno problema brasileiro é a instrução, dedicou-se de corpo e alma à tarefa humilde e trabalhosa do ensino, sendo um dos grandes batalhadores da alfabetização em nossa terra. Devido à sua dedicação criou-se o “Ateneu Ubatubense”, essa modelar casa, incontestavelmente uma das melhores organizadas escolas do litoral paulista e cujas ruínas ainda hoje podem ser vistas. Era aí que a juventude ubatubense ia receber os ensinamentos preciosos, não só das primeiras letras, mas também de francês, de latim, de música e de retórica.
Aí recebeu as primeiras luzes da cultura brilhante que hoje possui, o mestre insigne que possuímos na tradicional Faculdade de Direito de São Paulo, dr. J. J. Cardoso de Melo Neto, honrado governador do Estado. E muitos outros lembrarão ainda de Esteves da Silva, aquele professor devotado, o mesmo que à própria custa mantinha um curso noturno gratuito, dando ele mesmo o maior número das lições.
O “Ateneu Ubatubense”, que em 1901 recebeu menção honrosa na Exposição Regional de Iguape, chegou a possuir em sua biblioteca cerca de 5.000 volumes! O que isto significa, vós todos o sabeis: significa esforço constante de um homem, o sacrifício de uma vida que se consumiu no bem da causa pública. Não satisfeito com o seu imenso trabalho, para o lugar e tempo, publicou Esteves da Silva uma magnífica obra: “Ubatuba Médica”, na qual estuda minuciosamente esta terra, procurando pôr em relevo suas riquezas e possibilidades econômicas.
Mas Ubatuba soube ser-lhe agradecida. Em 1901 era eleito, pela vontade de seus concidadãos, deputado estadual para a legislatura de 1901 a 1903. Uma vez deputado, lá na metrópole paulista nunca esqueceu os amigos que aqui deixara. Não se envolveu na politicalha dos corredores, sempre foi um representante leal desta cidade. Sua voz firme e sincera, toda a vez que se levantava na Câmara, era para defender causas justas, para amparar o ensino, para ajudar a lavoura explorada pela incúria governamental.
Não quis o destino que durasse muito tempo o defensor extremado de Ubatuba. A 21 de novembro de 1921 falecia Esteves da Silva, deixando nesta cidade uma grande saudade, uma imensa tristeza, como só é acontecer com as grandes almas, essas que parecem feitas para um mundo melhor do que o nosso. O futuro auspicioso não será uma ficção, disse Esteves da Silva na sua obra “Ubatuba Médica”, não será uma ficção, uma utopia de louco sonhador, será o triunfo de ideias elevadas, a vitória de incessantes labores, o prêmio dos que tiveram coragem e perseverança.
Ubatuba, continuou ele, será uma irmã, no desenvolvimento moral e material, das demais cidades paulistas, o Estado de São Paulo manterá sempre o seu lugar de honra entre os Estados Unidos do Brasil e a nação brasileira ocupará, incontestavelmente e a despeito de pequenas invejas, na ordem e progresso da América, a indisputável posição, “Prima Inter Pares”.
Queira Deus que estas palavras de Esteves da Silva se transformem em esplêndida realidade; que sua vida de humildade e patriotismo seja um exemplo à mocidade desta terra, para que se eleve cada vez mais o nome de Ubatuba. São estes os nossos mais sinceros votos. Em Ubatuba a homenagem ao Dr. Esteves da Silva está em nome rua e de escola pública.
João Diogo Esteves da Silva nasceu em 1848 no Rio de Janeiro, formou-se em Medicina em 1879, com 31 anos de idade, após a defesa da tese sobre “Os casamentos sob o ponto de vista higiênico”. Formado, começou a clinicar no Rio de Janeiro, mas por pouco tempo. Em novembro de 1880, por questões de saúde, se transferiria para Ubatuba; tinha ficado tuberculoso. Sobre esta mudança, diz Felix Guizard Fº, no seu livro “Ubatuba”: “Foi obedecendo aos conselhos e a indicação do sábio mestre Torres Homem, que (o Dr. Esteves) procurou Ubatuba como estação sanitária/…/ a cidade era reputada das melhores localidades para os tocados pelo terrível bacilo da tuberculose.”
Casou-se com Da. Maria Benedita Gonçalves Pereira. Diogo Esteves foi um agente modificador da acanhada Ubatuba de então, que na época contava cerca de oito mil habitantes e, nostálgica, vivia das lembranças de passadas glórias dos tempos do café, época de luxo e esplendor no vale do Paraíba e litoral norte, definitivamente encerrada com a inauguração da ferrovia que ligava São Paulo ao porto de Santos.
Dentre as dívidas que Ubatuba tem para com o Dr. Esteves, vale lembrar:
– 1881: Fundação da escola noturna “Atheneu Ubatubense”, onde Esteves foi diretor e professor, além de ter elaborado textos técnicos e apostilas para os jovens estudantes
– 1891: Na principal revista médica brasileira da época, o “Brasil Médico”, publica dois artigos sobre problemas de saúde em Ubatuba:
22/abril/1891: Apontamentos sobre a cidade de Ubatuba;
22/maio/1891: Doenças mentais na cidade de Ubatuba.
– 1891: Diogo Esteves fez publicar no Rio de Janeiro o livro “Ubatuba médica: apontamentos de geografia, climatologia, história natural e patologia local”, com 102 páginas. Um exemplar original dessa raridade pode ser consultado no Instituto Histórico e Geográfico, próximo à Praça da Sé, em São Paulo, onde está arquivado sob o código 918.161 / U 12 S.
Neste texto, muito bem escrito, o autor traça um amplo painel das condições de vida da população de Ubatuba no final do século 19. Felizmente, este trabalho de Diogo Esteves foi transcrito, integralmente, por Guizard Fº no seu livro “Ubatuba”.12/10/1896: data da criação do jornal “Echo Ubatubense”, onde o médico exerce funções de repórter e redator chefe. O jornal duraria pouco mais de um ano, verdadeiro recorde naqueles tempos (1898).
Eleito deputado estadual, muda-se para São Paulo, onde viria falecer em 1901. Se acha sepultado no cemitério da Consolação daquela cidade. A extensa obra de João Diogo Esteves da Silva está dispersa, muita coisa sob risco de se perder. Publicou ainda “Aspirações do Progresso”, “A Civilização e a Municipalidade”, “O Materialismo e o Destino Humano”, “A Mãe, a Escola e o Livro” e “Ubatuba Médica”. Foi fundador e editor-chefe do jornal Echo Ubatubense, o ECHO foi o primeiro jornal da cidade, e muito provavelmente um dos primeiros do interior do Brasil.
Fonte das Informações:
Hélio Almeida em Terceiro Centenário de Ubatuba – Edições do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo – 1938
http://www.ubaweb.com/ubatuba/personagens/index_per_masc.php?pers=esteves
http://ubatubense.blogspot.com/2008/08/conhea-dr-esteves-da-silva.html