Todo ano, durante o verão, milhões de pessoas vão às praias para se refrescar nas águas. Sabemos, que o protetor solar é obviamente importante para a proteção contra os riscos dos raios ultravioleta. Tudo parece perfeito, mas do ponto de vista ecológico temos um grande problema. No entanto, nós temos que tentar proteger melhor o ambiente marinho com nossa escolha do protetor solar que usamos, porque o que poucos percebem é que as loções e sprays protetores podem ter sérios impactos negativos na vida marinha.
Os produtos químicos carregados por milhões de pessoas que visitam praias anualmente levam cerca de 6mil toneladas de protetores solares que são dissolvidos no oceano a cada ano. Estes químicos, incluindo filtros orgânicos, que são benéficos ao ser humano, podem enfraquecer e matar os corais e suas algas simbióticas.
Estas algas, chamadas zooxanthellae, fornecem energia através da fotossíntese aos corais que as abrigam. Isto possibilita aos corais construir os recifes, que servem de habitat para milhões de animais marinhos. Uma dessas substâncias presentes em protetores solares acelera o crescimento de um vírus dentro das algas, o que as enfraquece e acaba matando os corais. Este processo é piorado pelos efeitos da mudança climática, com o aumento da temperatura dos oceanos e dos poluentes lançados pelos seres humanos. A presença de humanos em qualquer lugar na água próximo a um recife é um possível caminho para a contaminação.
Além de ser lavado da pele dos banhistas para dentro da água, os protetores solares podem chegar ao mar por outros meios. Muitos componentes dos protetores solares são imediatamente absorvidos pela pele. A oxibenzona, uma das mais comuns substancias químicas bloqueadoras de raios ultravioletas, por exemplo, pode ser detectada na urina dentro de 30 minutos após a aplicação. Quando você dá descarga ou lava o protetor solar no chuveiro, substancias químicas do creme vão para o esgoto. Para cidades próximas a recifes de corais e sem sistemas de gerenciamento e tratamento de esgoto sofisticados, essa poluição é inevitável. Qualquer recife de coral próximo a uma importante ocupação humana está potencialmente vulnerável a uma trilha de poluição.
Os protetores solares não ameaçam todo e qualquer recife de coral no mundo. O protetor solar, e outros produtos de cuidados pessoais, entretanto, ameaçam os recifes de corais que são mais importantes para as pessoas – aqueles que são pontos focais de turismo assim como recifes em franjas que são críticos para a proteção das costas contra a erosão. E eles ameaçam a capacidade de pescadores de subsistência local acessarem a abundância de alimento que recifes próximos a costa saudáveis já proporcionaram. Não apenas a intensa poluição por protetores solares ameaça a sobrevivência desses recifes, como também pode impedir a recuperação e restauração de recifes já degradados.
Em outubro de 2015, foram examinados os efeitos toxicológicos da oxibenzona em larvas de coral, e descobriram que a oxibenzona induz o branqueamento de corais ao diminuir a temperatura na qual os corais sofrem o branqueamento quando expostos a um estresse térmico prolongado. A oxibenzona é genotóxica, o que significa que ela danifica o DNA dos corais assim como provoca deformidades graves e letais. Mais alarmante é que a oxibenzona, age como um disruptor endócrino, fazendo com que a larva de coral indevidamente se encerre em seu próprio esqueleto calcário – em um momento de seu desenvolvimento em que ela nem deveria ter um esqueleto.
Outra pesquisa emergente está mostrando que as concentrações de oxibenzona em recifes próximos a costa em todo o mundo estão frequentemente entre 100 partes por trilhão a 100 partes por bilhão – bem dentro da faixa de ser uma ameaça ambiental importante. A oxibenzona não é toxica apenas para corais. Ela é toxica para algas, ouriços-do-mar, peixes e mamíferos. Ela inibe o desenvolvimento embrionário dos ouriços-do-mar. Ela pode levar a uma troca de gêneros em peixes, no qual peixes machos desenvolvem atributos femininos, enquanto fêmeas tem produção de ovos e eclosão de embriões reduzidas. Em mamíferos foi demonstrado que ela é um possível agente mutagênico e que exibe atividade pro carcinogênica.
Existe um leque de outras substancias químicas presentes nos protetores solares que são potencialmente tóxicos para os recifes de corais, algumas das quais – incluindo metoxicinamatos e cânforas – na lista SIN (substitua agora – Substitute It Now) da International Chemical Secretariat baseado em sua ação como disruptor endócrino para humanos e vida selvagem. Nanopartículas não revestidas (com menos de 35 nanômetros de diâmetro) de oxido de zinco e dióxido de titânio (chamados de protetores solares “minerais”) podem ser tóxicos para os corais, peixes e outros organismos do recife. Sua toxicidade deriva de seu minúsculo tamanho e de sua interação com as células, assim como do fato que eles causam estresse oxidativo sob luz solar (em outras palavras, eles também causam branqueamento dos corais). Oxido de zinco e dióxido de titânio revestidos não-nanotizados (designação comercial superior a 150 nanômetros de diâmetro) não exibem toxicidade aguda imediata. Absorvedores de raios ultravioletas (UV) monoplásticos, que normalmente apresentam diâmetro de cerca de 350 nanômetros, também não são necessariamente tóxicos para o ambiente marinho, embora sua propriedade nanotizadora pode ser um fator de preocupação.
O fitoplâncton é essencial para o nosso planeta. É não só o início da cadeia alimentar marinha, mas também se calcula que seja responsável pela produção de 50 a 90% do oxigênio mundial. Um estudo de 2010, descobriu que as nanopartículas de ZnO (óxido de zinco) matam o plâncton, enquanto outros estudos determinaram que as nanopartículas de ZnO são extremamente tóxicas e as nanopartículas de TiO2 (oxido metálico dióxido de titânio) são prejudiciais à vida marinha. Existe atualmente 40% menos de fitoplâncton nos oceanos mundiais em comparação com o valor de 1950. Uma vez que se provou que as nanopartículas de óxido de zinco matam o plâncton, é imperativo que paremos de contaminar os oceanos com os químicos de proteção solar.
Vários estudos estão agora a identificar que essas nanopartículas são tóxicas para os peixes, encontrando-as nas guelras, no fígado, no coração e no cérebro. Além disso, os químicos que se encontram nos protetores solares são tão ativos em termos hormonais que os peixes expostos aos mesmos produzem crias com uma mistura de partes reprodutivas masculinas e femininas, com danos tão grandes que alguns param mesmo de desovar. Os investigadores cunharam o termo “intersexo” para estas crias quimicamente afetadas.
Além do TiO2 e do ZnO, os químicos de proteção solar mesmo em concentrações muito baixas (iguais às que restam depois de se retirar o protetor solar com o chuveiro) lixiviam completamente (isto é, matam) o coral em 96 horas. Os químicos que causam a morte são os acima referidos BP-3, OMC e 4-MBC, assim como o conservante butilparabeno (BP).
Uma certificação “orgânico” não significa que um protetor solar seja seguro para o ambiente. Vários óleos de planta podem ser tóxicos para os organismos do recife, especialmente os artrópodes. Por exemplo, óleos de nem, eucalipto e lavanda, que são utilizados em alguns protetores solares orgânicos, também tem aplicação como repelentes de insetos ou inseticidas, o que sugere que eles também podem ter uma toxicidade relativa para invertebrados aumentada. Outros ingredientes como cera de abelhas podem estar contaminados com uma variedade de fungicidas industriais e inseticidas. Ingredientes orgânicos, ou qualquer ingrediente em um produto, devem ser sujeitados a testes de toxicidade.
Polímeros de silicone, siloxanos cíclicos (ex: octametilciclotetrasiloxano e decametilciclpentasiloxano) e outras alternativas aos óleos justificam alguma preocupação. Esses compostos orgânicos de silício não são biodegradáveis e podem bioacumular em organismos aquáticos e marinhos, incluindo peixes comestíveis. Muitos protetores solares também contêm conservantes, que um crescente número de evidências demonstra que são um perigo para o ambiente. Os parabenos são conservantes que inibem o crescimento de fungos e bactérias. Em pequenas concentrações podem agir como disruptores de feromônio e endócrino, enquanto em concentrações maiores podem ser agudamente tóxicos para os invertebrados. Outro conservante, o fenoxietanol, era originalmente utilizado como inseticida e como repelente de insetos, e pode ser tóxico em baixas concentrações para invertebrados desde camarões até ouriços-do-mar. Ele ainda é utilizado como anestésico em massa para peixes em algumas operações de aquicultura
A boa notícia é que muitas indústrias farmacêuticas agora estão oferecendo protetores mais confiáveis elaborados de forma artesanal à base de plantas – fitoprotetores – e ingredientes derivados de minerais sem aditivos químicos. Esses produtos podem ser encontrados em farmácias de manipulação.
Você pode ajudar a proteger os ambientes marinhos ao escolher protetores solares com base mineral e que não contenham compostos químicos conhecidos por ter efeitos negativos no oceano. Seus esforços, combinados com aqueles milhões de outros nadadores, mergulhadores e amantes da praia que pensam como você, pode ajudar a manter os oceanos saudáveis para as futuras gerações.
Artigo técnico escrito por Ana Rubia Nascimento
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