A contaminação do meio ambiente está comprometida. Este fato é nitidamente observado em ambientes aquáticos. A contaminação ambiental por agentes químicos tem ocorrido de forma intencional ou acidental em decorrência da atividade humana. Os ecossistemas vêm recebendo uma carga constante de substâncias químicas, orgânicas e inorgânicas. Ecossistemas costeiros, tais como estuários e baías são os que recebem a maior carga de contaminantes e por serem regiões de elevada produtividade biológica.
Investigar a poluição marinha é avaliar o impacto biológico de poluentes sobre ecossistemas marinhos. Os métodos para avaliação da toxicidade proliferaram, as diferenças na complexidade, tipo de informação gerada, custo e tempo requerido variam enormemente. Os efeitos de poluentes podem ser estudados a muitos níveis biológicos, de mudanças a nível subcelular a alterações da população.
As atividades humanas são responsáveis pelo maior declínio da diversidade biológica e o problema é tão grave que pode ter acelerado o número de espécies extintas entre 1000 e 10000 vezes, comparado à taxa natural. Nos oceanos a ameaça à vida marinha ocorre de várias formas, tais como: super exploração de recursos, poluição térmica, sonora e por despejo de resíduos, introdução de espécies não nativas, dragagem e mudanças climáticas globais.
O lixo marinho provém de ações antropogênicas e afeta diretamente o ambiente marinho. Resíduos plásticos aparecem como a maior ameaça a este ecossistema, uma vez que são os mais abundantes tanto em peso, como em quantidade. Ainda assim, o despejo desses resíduos nos oceanos é cada vez maior. O lixo, denominação genérica aplicada aos resíduos sólidos, é um dos subprodutos mais deletérios das atividades humanas e passou a ocupar lugar destacado depois do advento e disseminação dos materiais plásticos e não biodegradáveis.
Lixo marinho pode ser caracterizado como qualquer tipo de resíduo sólido que tenha sido introduzido no oceano por qualquer tipo de fonte, normalmente constituído por plástico, isopor, borracha, vidro, metal, tecido, entre outros materiais.
Uma forma particular de impacto antropogênico constitui a maior ameaça ao ecossistema marinho: a poluição por resíduos plásticos. O plástico, assim como os demais resíduos, é proveniente de ações antrópicas. A realização de pesquisas ao longo das praias costeiras é uma técnica utilizada para a avaliação do estado dos resíduos ali encontrados, fornecendo assim uma indicação das condições da água.
O Brasil tem 7.408 km de extensão de linha de costa e cerca de 442 mil km2 de zonas costeiras. Cinco das nove maiores regiões metropolitanas brasileiras situam-se à beira-mar e, aproximadamente, 70% da população brasileira reside a não menos que 200 km do mar. Parte dessa população não dispõe de redes de esgotos, nem de sistema de coleta de lixo, agravando os efeitos ambientais. Os 70 milhões de habitantes das áreas costeiras geram 56 mil toneladas diárias de lixo, das quais 42 mil são coletadas. A maior parte do que é coletado vai para lixões a céu aberto ou outros tipos de aterros sanitários, muitos situados perto de rios, do mar ou de áreas de preservação ambiental.
Dados obtidos em 1997 na costa do Rio Grande do Sul reportaram poluição marinha por resíduos, incluindo pellets, ao longo de todo o estado, considerando que existem unidades de conservação na região. Pellets é uma designação dada ao plástico em forma de grãos, que ocorre após o processo de reciclagem. Na Reserva Biológica do Arvoredo, em Santa Catarina, tanto no fundo do mar quanto na costa, há incidências de resíduos. No fundo do mar a maioria dos resíduos provem de atividades pesqueiras, sendo 25% linhas de pesca; já na costa, a maioria dos resíduos eram poliestireno, seguidos de plásticos com procedência terrestre e de bases marinhas.
Em regiões tropicais, as planícies litorâneas abrigam as áreas de manguezais, essenciais na reprodução, proteção e alimentação de diversas espécies. Animais como aves, peixes, camarões, caranguejos e moluscos passam parte de seus ciclos de vida nos manguezais. Desta forma, tais ecossistemas possuem vital importância na manutenção e conservação da biodiversidade. Entretanto, as ações de limpeza são ainda menores em ambientes estuarinos, onde o principal resíduo encontrado também é o plástico.
Existem vários mecanismos através dos quais a população humana pode funcionar como um vetor de deposição de detritos em uma área, podendo ser levada em conta a população local, o tamanho da população, programas de gestão de resíduos e o grau de uso do local, ligados a atividade turística. A atividade turística pode incluir dois fatores: (1) centros de grande população perto do local, que significam um aumento da presença do visitante, especialmente em alta temporada, e (2) atividades no mar, como os barcos de recreio / pesca e navios comerciais (transporte, turismo e pesca).
Depois de despejado, o lixo é transportado por correntes marinhas, instalando-se em locais isolados, muitas vezes ricos em fauna, caracterizado por zonas de convergência oceânica. As correntes oceânicas giram no sentido horário, no Hemisfério Norte, e no sentido anti-horário, no Hemisfério Sul, formando 5 giros subtropicais: do Pacífico Norte, do Pacífico Sul, do Atlântico Norte, do Atlântico Sul e do Oceano.
As ameaças à vida marinha são principalmente mecânicas, devido à ingestão de restos de plástico e pelo emaranhamento em cordas sintéticas e linhas ou redes de deriva. Seus efeitos são difíceis de serem observados, mas são certamente sub-letais ou letais, podendo ocorrer através de sufocamento por grandes peças de plástico, obstrução do trato digestório e diminuição do volume funcional do estômago que podem causar, em pouco tempo, a morte do animal. O emaranhamento pode também diminuir a sobrevivência dos indivíduos, uma vez que muitos ficam presos e não conseguem mais se locomover.
O despejo de resíduos afeta pelo menos 267 espécies em todo o mundo, incluindo 86% de todas as espécies de tartarugas marinhas, 44% de todas as espécies de aves marinhas e 43% de todas as espécies de mamíferos marinhos. Entretanto, o problema pode estar sendo altamente subestimado, uma vez que a maioria das vítimas está disposta em áreas desconhecidas no vasto oceano.
Ao redor do mundo, existem muitas organizações não governamentais que abordam este tema. Muitas delas se unem e visam, não somente pesquisa e coleta de materiais, mas também alertar a população e fazer frente às autoridades locais, quanto à instituição de leis. Embora sejam importantes, essas campanhas são ações esporádicas, portanto paliativas e insuficientes na ausência de políticas permanentes. A poluição dos ambientes costeiros por resíduos sólidos, principalmente plásticos, é um problema desafiador, que precisa ser combatido com um esforço coletivo da sociedade e dos órgãos governamentais.
O Brasil, devido à grande extensão costeira, à alta densidade demográfica na costa e à ainda insuficiente taxa de reaproveitamento de resíduos, tornou-se um poluidor em potencial de suas próprias praias e do mar adjacente. Os prejuízos ambientais e estéticos do acúmulo de resíduos sólidos na costa e no mar, somados às perdas econômicas que isso provoca (queda no turismo e gastos com a limpeza das praias), serão os fatores determinantes na adoção de uma nova abordagem nessa questão: a busca de medidas de prevenção. O melhor caminho para uma mudança seria a conscientização da população. Se isso ocorresse, mesmo sem políticas públicas, não haveriam mais despejos de lixo nos oceanos, a população reduziria o uso de polímeros orgânicos sintéticos assim como os reaproveitariam e adotariam a reciclagem, uma vez que estariam conscientes da importância dos impactos gerados por estes resíduos.
Artigo técnico escrito por: Ana Rubia Nascimento
Referências Bibliográficas:
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* GLOBAL GARBAGE. Avaliação da percepção sobre lixo marinho: ferramenta para a gestão do problema. Disponível em: https://www.globalgarbage.org/blog/index.php
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