Quem nunca se deparou com o termo “maré” quando foi à praia? “A maré está baixa agora” ou então “A maré está subindo” Mas como saber isso? E para quê? As marés são muito importantes, não só biologicamente, mas também economicamente.
Você sabia que para um navio entrar em um porto é necessário saber se a maré está alta ou baixa? Que se você quiser dar um passeio pela praia precisa ter alguma noção sobre marés, caso contrário pode ficar ilhado depois de algum tempo? Isso sem falar que as marés são fatores limitantes para a sobrevivência das espécies em costões rochosos, praias arenosas e manguezais. Só com essas perguntas já dá para perceber que as marés são muito importantes em nosso cotidiano!
Se quer saber o que elas são, como ocorre o regime de marés e muito mais… Vamos lá!
A Maré é uma Onda?
A maré é um tipo de onda oceânica. Toda onda oceânica possui três características que as diferenciam, sendo elas: comprimento de onda, força perturbadora e força restauradora. Mas o que é isso?
O comprimento de onda é a distância entre duas cristas (o ponto mais alto da onda). No caso das marés, o comprimento de onda corresponde à metade da circunferência da Terra. A força perturbadora é a energia que faz com que a onda oceânica se forme; a restauradora é a força dominante que achata a superfície da água depois da formação da onda. Para as marés, a força perturbadora consiste na atração gravitacional e na rotação da Terra, enquanto que a restauradora é a gravidade.
Atrações Gravitacionais que Geram as Marés
As marés são alterações periódicas na altura da superfície do oceano em determinado lugar. Ou seja, há uma oscilação no nível da água do mar, tanto acima quanto abaixo da altura média. Essas alterações ocorrem devido à atração gravitacional exercida pela Lua sobre a Terra e, em menor escala, pelo Sol sobre a Terra. Embora a massa da Lua seja menor que a do Sol, ela tem maior influência sobre as marés, uma vez que se situa mais próxima da Terra.
Para explicar como as marés ocorrem, há duas teorias: a teoria do equilíbrio, que lida com a posição e a atração da Terra, da Lua e do Sol, considerando os oceanos com profundidade uniforme; e a teoria dinâmica, que considera a presença dos continentes e a profundidade variável dos oceanos.
Teoria do Equilíbrio
Para entendermos essa teoria, vamos conhecer um pouco sobre o sistema Terra-Lua. Sabemos que esse sistema está em equilíbrio devido a duas forças opostas: a gravidade, que atrai ambos os astros para a mesma direção, e a inércia, também conhecida como força centrífuga, que os mantém separados.
Sendo assim, a gravidade da Lua atrai a superfície do oceano em sua direção e a força centrífuga gerada pelo movimento do sistema Terra-Lua cria uma força oposta, resultando em dois bulbos de maré. De acordo com a teoria do equilíbrio, esses bulbos tendem a ficar alinhados com a Lua à medida que a Terra gira em torno do seu eixo. As marés altas seriam nos bulbos e as maré baixas seriam nas cavas, ou seja, na região entre os bulbos.
Tipos de Marés
Podemos dividir as marés quanto a sua amplitude em dois tipos: as marés de sizígia ou vivas e as marés de quadratura ou mortas.
Marés de Sizígia: ocorrem nas ocasiões em que o Sol, a Terra e a Lua estão alinhados. Nesse caso há a sobreposição das marés lunares e solares e, consequentemente, temos as marés altas ainda mais altas e as marés baixas ainda mais baixas. As marés de sizígia ocorrem a cada duas semanas, correspondendo às luas cheia e nova.
Marés de Quadratura: ocorrem quando a Lua e o Sol formam um ângulo reto, tendo como vértice a Terra. Nesse caso, temos as marés mortas, que correspondem às luas crescente e minguante.
Em certos lugares há duas marés altas ou baixas em um mesmo dia….como explicar isso?
É aqui que entra a teoria dinâmica. Diferente da teoria do equilíbrio, a teoria dinâmica considera a interferência de águas rasas, dos continentes e do formato da bacia sobre as marés. Como assim? Vamos ver um exemplo com uma ilha na imagem abaixo. Em certo momento ela está exposta na maré baixa, depois está diretamente sob a Lua, completamente submersa, devido a maior maré alta e, em seguida, está parcialmente submersa devido a menor maré alta. O mesmo caso da ilha poderia ser aplicado a um continente; a diferença seria que, quando a Lua estivesse acima do continente, não formaria bulbo de maré nesse ponto, mas as “costas” do continente estariam sujeitas a maré alta. Algumas horas depois, a Lua estaria sobre o oceano e as bordas desse continente estariam sob maré baixa.
Exemplo de como a Lua acarreta diferentes alturas de maré em uma ilha. Fonte: Brasil Mergulho.
Devido a essa diferença de relevo, e também por outros motivos, algumas costas experimentam marés semidiurnas (duas marés altas e duas baixas a cada dia lunar), marés diurnas (uma alta e uma baixa) e marés mistas (duas marés altas e duas baixas de alturas significativamente diferentes).Três tipos de marés que podem ocorrer. O gráfico (a) mostra a maré semidiurna, padrão encontrado na América do Sul, na costa leste da América do Norte, maior parte da Europa e da África. O gráfico (b) representa a maré mista, padrão que ocorre na costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá. O terceiro (c) mostra a maré diurna, ocorrendo na costa da Antártica e em partes do Golfo do México, Caribe e Pacífico. Fonte: Castro e Huber, 2012.
Mas afinal de contas, onde eu posso encontrar informações sobre os níveis de marés?
Você pode encontrar esses dados nas tábuas de marés no site da marinha. Lá, você escolhe o porto mais próximo da praia onde estará e seleciona informações como o mês e o ano que desejar. Assim que fizer isso, você terá uma tabela com as marés mínimas e máximas, tendo como referência o ponto 0.0, chamado “datum” de maré.
É importante lembrar que os fatores meteorológicos, principalmente a velocidade e a direção dos ventos, podem alterar o nível do mar, aumentando, diminuindo, adiantando ou atrasando as marés previstas nas tábuas. Inclusive, ventos muito fortes em alto mar podem empurrar grandes quantidades de água para a costa, fazendo com que o nível do mar suba acima do normal; estas são as marés meteorológicas, mais conhecidas como ressacas. Na próxima vez que você estiver na praia, observe a variação da maré do dia, assim você poderá presenciar esse fenômeno da natureza de perto e entendê-lo.
Autores: Raphaela A. Duarte Silveira, Douglas F. Peiró, Thais R. Semprebom, Juliane S. Freitas, Julia R. Salmazo e Rodrigo Ilho
Artigo técnico publicado em: https://www.bioicos.org.br/post/o-incrivel-fenomeno-das-mares-uma-onda-oceanica