(Artigo publicado por Litoral Virtual, para celebrar o aniversário de 363 anos de Ubatuba – 28 Out/2000)
A primeira cidade das Américas a ser cruzada pelo Trópico de Capricórnio, provocando um fenômeno raro no dia em que recebe o verão, 22 de dezembro. Nesta data, Ubatuba não tem sombra ao meio-dia, logo, o slogan: “Ubatuba – Aqui começa o verão”!
Cidade onde a história funde-se à fascinante beleza natural, emocionada na Praia da Sununga, região sul do município, eis a “Gruta que Chora”! Em séculos pretéritos a cidade pertencia ao setor jurídico do estado do Rio de Janeiro. Por questões políticas, na data de 26 de fevereiro de 1731, passou a pertencer ao estado de São Paulo. Sofreu duas decadências econômicas: uma com o fechamento do porto em 1789, que quando em funcionamento chegou a produzir a maior arrecadação de todo o país, segundo consta em registros; e a outra foi em 1890, por motivo de falência da ferrovia que nem fora concluída.
Aos poucos, a menina Ubatuba foi tomando forma e alguns monumentos fizeram parte da sua história. Um que já não existe é o chafariz, que foi instalado onde hoje é o calçadão, (em frente ao Banco do Brasil) que fez parte da inauguração, no dia 20 de maio de 1896, do novo sistema de abastecimento de água da cidade. Mas, o inédito é que neste dia tão especial, o chafariz vertia vinho da melhor qualidade.
Outros monumentos são ignorados pela amnésia do povo como, por exemplo, o monumento doado pelo Papa D. João XXIII, no quarto centenário da Paz de Iperoig, em homenagem a antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos: a estátua de Nossa Senhora da Paz de Iperoig, que até hoje permanece na praça de mesmo nome; ou até mesmo o ignorado monumento feito de uma rocha, o granito de nome “verde-ubatuba”, localizado na rotatória da avenida Iperoig, granito de valor inestimável, pois encontra-se apenas em Ubatuba e no continente africano.
Poucos sabem (mas as fotos registraram) que a Igreja Matriz iniciou-se em 1790 e em 1885 ela ainda não tinha as torres e suas hoje imensas palmeiras imperiais, um dia foram jovens e pequenas; o Casarão do Porto, até meados de 1962, exibia quatro estátuas representantes das quatro estações do ano; em 1949, chegou no município o primeiro banco, o Banco do Vale Paraibano; Licurgo Barbosa Querido construiu por iniciativa privada na orla de Iperoig, onde hoje funciona a feira hippie, em 1960, uma movimentada quadra poliesportiva.
São conquistas que fizeram parte de nossa história.
Homens importantes pisaram em nossas areias: Anchieta, Hans Staden, Cunhambebe, políticos como Ciccillo Matarazzo que governou nossa cidade, cineastas, artistas, turistas e agora nós, que também fazemos parte da construção desta história, que se eternizará, boa ou ruim…
Bebidas fizeram sucesso e foram cúmplices nas resoluções tomadas em rodas que decidiram nossa história. É o caso da famosa pinga Ubatubana, dos irmãos Chieus, que sobreviveu cerca de cem anos. Também havia a pinga Iperoig, do senhor Toledo Pizza; a pinga Jacaré, do senhor Leovigildo Dias Vieira e até mesmo a típica “concertada”, de sabor suave, bebida criada aqui em Ubatuba para que as mulheres pudessem acompanhar os maridos que, quando na vinda da pesca, “matavam o bicho” (bebiam a pinga). Hoje, somente D.ª Mariazinha do bairro do Itaguá e a comunidade da Praia Grande do Bonete, região sul do município, produzem tal bebida caseira ainda encontrada em algumas festas tradicionais caiçaras.
Ubatuba teve dois hinos, porém apenas um foi definitivamente conhecido. Este hino antes cantado, que hoje está esquecido por quase todos, diz em sua última estrofe: “Eu amo Ubatuba, assim como ela é, sozinha, isolada, só com sua fé. Enquanto ela aguarda o progresso que vem, que fique guardada…”, e o progresso foi vindo…
Mas, algumas conquistas perderam-se no meio do caminho: a Prova Natatória Internacional, a Copa de Caça Submarina, o Torneio de Pesca de Lançamento, diversas cooperativas, os voos comerciais da VASP, e o relógio de sol, que ficava na hoje praça Nóbrega.
Já jovem, a paradisíaca cidade virou garota propaganda e participou de comerciais de TV, como por exemplo o das duchas Corona, filmado na Cachoeira do Prumirim o mesmo cenário escolhido pela Raider; o Monza em cima do Pico do Corcovado; o da Sundow, realizado na Ilha do Prumirim, e tantos outros, sem contar as participações em mini séries, filmes e até cenas em novelas.
Imensa, Ubatuba acolhe caiçaras, veranistas, turistas estrangeiros e nacionais, tribo indígena e redutos quilombolas. Em meio à reserva da Serra do Mar, dentre recortadas colinas, estão mais de 80 praias de características particulares, umas compostas só por conchas, outras com areias avermelhadas, cachoeiras milagrosas, fazendas, pesque-pague e paradisíacas ilhas. Esta também é a terra dos esotéricos. Em 1957, um objeto não identificado explodiu à luz do dia, na Praia das Toninhas. Não houve barulho, porém caíram detritos recolhidos pela USP e que até hoje estão em estudos na NASA.
O paraíso, terra tamoia, terra de todos! Obrigado por nos receber e nos permitir deliciar junto ao luar, sua história aprender e em você vivenciar…
Texto extraído de Litoral Virtual:
https://www2.uol.com.br/jornalasemana/edicao103/materia0.htm