Para entender a história do tradicional prato “Camarão na Moranga”, vamos primeiro conhecer um pouco do local que deu origem a esse prato tão especial, a Ilha Anchieta, localizada em Ubatuba, próxima a região central da cidade.
O local abrigou na década de 1930 um presídio político que foi desativado após uma grande rebelião. As ruínas do presídio que ali funcionou de 1904 a 1955, hoje são um grande atrativo turístico para quem visita a ilha. Enquanto esteve em funcionamento, o presídio recebeu um grupo de presos japoneses. Esses japoneses eram muito trabalhadores, e transformaram o capim-melado e o sapezal da Ilha Anchieta em plantações de verduras e legumes.
Acredita-se que de tanto andar descalço e comer peixe cru, junto com a falta de higiene que era muito comum nos presídios da época, os presos da ilha, adquiriram várias doenças, entre elas a esquistossomose, conhecida como barriga d’água, uma infecção por parasitas, muito comum entre pessoas que trabalham no campo. Um médico local sugeriu que tomassem remédios tradicionais, mas o grupo de japoneses não aceitou tomar os tradicionais lombrigueiros dos caiçaras, e passaram a plantar abóbora, pois de suas sementes era obtido um poderoso vermífugo e o problema foi resolvido.
A novidade fez tanto sucesso que os moradores do continente, começaram a comprar as abóboras plantadas na ilha e torrar as sementes, para comer e curar suas moléstias. Criou-se então um fluxo de transporte de abóboras da ilha para as praias de Ubatuba. Certa vez, durante uma destas viagens, uma abóbora (tipo moranga), caiu no mar e afundou, não dando pra recuperar. Fazer o que?! Fazer o que, é que o caiçara não ia perder aquela abóbora por nada. No outro dia lá estava ele arrastando os mais diversos tipos de redes de pesca, para recuperar a abóbora. Arrastou puçá, rede de cabo, picaré e até rede de troia, o homem bateu, pra ver se a abóbora malhava na rede. Mas não teve jeito, a abóbora sumiu.
Sumiu, mas depois de uma semana apareceu na areia da Praia da Enseada, exatamente em frente ao restaurante da dona Zenaide e, por coincidência, foi achada pela própria que, vendo aquela beleza de fruto, não pensou duas vezes: “Vou fazer um cozido!” Pegou a abóbora e cozinhou inteira num “panelão” de barro. Abóbora cozida, hora de apreciar! Foi aí a surpresa. Ao abrir a tal abóbora descobriu que dentro tinha mais de dois quilos, de camarão sete-barbas. Vendo aquilo e como boa cozinheira que era, trocou as sementes por cheiro-verde, coentro de folha, tomate, alho e cebola, e deu mais uma fervida na abóbora. Pronto! Estava criado mais um prato típico da culinária caiçara: “Camarão na Moranga”, prato este que passou a ser o carro-chefe do restaurante Zenaide, na Praia da Enseada.
O curioso foi desvendar como os camarões foram parar dentro da abóbora. Verificou-se depois que naquela abóbora existia um buraco no lugar do talo, por isso ela afundou, e foi por ali que os crustáceos entraram, fazendo da abóbora uma segura e confortável moradia.
Depois dessa descoberta, a receita do “Camarão na Moranga” foi aprimorada, e hoje se encontra nos principais restaurantes da cidade, um prato típico da culinária caiçara, e passou a fazer parte do cardápio de muitos restaurantes litorâneos espalhados pelo Brasil.
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