A Praia de Iperoig é o “berço” dos principais acontecimentos da história de Ubatuba e de nosso país. Foi nesta praia em suas areias, que o apóstolo do Brasil, canonizado em 2014, Padre José de Anchieta, escreveu os 4072 versos em latim do “Poema à Virgem”, quando foi prisioneiro dos indígenas tupinambá.
Foi da Praia do Cruzeiro (ou Iperoig) que os indígenas partiram para a “Confederação dos Tamoios” liderada pelo chefe Cunhambebe, e nesta praia foi assinado o primeiro Tratado de Paz da América Latina.
Ao caminhar pela região temos contato com alguns monumentos que marcam a história da cidade, entre eles a estátua em tamanho natural do Padre José de Anchieta. Temos próximo a praia, o “Marco da Paz”, que também existe em várias outras cidades, para lembrar aos homens dos cinco continentes a necessidade da manutenção da paz e a promessa de um mundo melhor.
E na orla de Iperoig está a famosa Feirinha de Ubatuba, e o Cruzeiro, localizado ao lado do Farol da Barra do Rio Grande, que foi colocado ali em 14 de Setembro de 1563, na época de madeira, para simbolizar a “Paz de Iperoig”, encontrando-se no mesmo lugar de origem apenas com sua substituição por uma peça de concreto.
Um dos destaques do lugar é o Farol da Barra dos Pescadores (ou do Cruzeiro), inaugurado em 1994, junto à foz do rio Grande de Ubatuba, que foi construído para auxiliar na localização e navegação durante a entrada na Ilha dos Pescadores, um lugar propício para apreciar um amanhecer ensolarado e também muito procurado por pescadores amadores.
Ainda na Praia do Cruzeiro temos a Praça da Paz, que demonstra o simbolismo do encontro entre portugueses e os indígenas e no Morro da Prainha a imagem de São Pedro Pescador, padroeiro da cidade, “só observando” a orla da praia e a baía de Ubatuba. No final da tarde e início de noite, famílias e amigos dão vida a orla de Iperoig, alguns vindo da missa da Igreja Matriz, ou seguindo para o Teatro Municipal, visitando o Sobradão do Porto, fazendo caminhada, visitando a “feirinha de Ubatuba” ou curtindo as sorveterias e quiosques.
É comum as pessoas ficarem conversando em seus bancos de jardim na praia, indo e vindo do Mercado Municipal e Vila dos Pescadores, ou simplesmente ficarem observando as belezas da barra do Rio Grande, e da baía de Ubatuba em especial nas noites de lua cheia.
É também no calçadão da praia que temos orgulhosamente uma enorme bandeira de nossa cidade hasteada, que tremula sob os ventos da baía de Ubatuba. Local de vida noturna agitada, é onde está instalada a “Feirinha de Artesanato“, “point” jovem, e uma praia própria para pesca. Iperoig é uma palavra do dialeto Tupi, que significa “Água que tem Tubarões”.
Iperoig, Uma História de Resistência (Texto extraído do site oficial da Prefeitura de Ubatuba (https://camaraubatuba.sp.gov.br/site/noticias/iperoig-uma-historia-de-resistencia/).
Tão importante quanto o dia 28 de outubro (dia que se comemora o aniversário da cidade), o 14 de setembro também é um feriado em Ubatuba. Mas poucos sabem porquê. O 14 de setembro lembra que a história de Ubatuba está enraizada lá nos primeiros anos do Brasil colônia e é uma historia de resistência, bravura e traições. Cabral maravilhou-se com a recepção amistosa dos indígenas tupiniquins em 1500 mas, aqui na região, 50 anos depois, entre Cabo Frio e Bertioga os indígenas Tamuias ou Tamoios – que significa “os mais antigos donos da terra, os primeiros” – travaram guerra direta com os “pêros”, como eles chamavam os portugueses. Tamoios é um nome genérico que reúne várias tribos num mesmo grupo como os Tupinambá, Guaianases e Aimorés. No meio, a aldeia de Iperoig, o primeiro nome de Ubatuba.
Massacres e escravidão
Os indígenas da região começaram a resistir à ocupação quando os “pêros” começaram a invadir aldeias aprisionando indígenas em busca de braços escravizados para as recém iniciadas lavouras de cana em São Vicente, massacrando mulheres e crianças, coisa que os indígenas, mesmo antropófagos, nunca faziam. Se mulheres e crianças não lutavam, por quê matá-los? Eles não entendiam.
A união dos 5 chefes
Por vezes as datas se desencontram, mas por cerca de duas décadas, entre 1554 e 1575, a união de cinco chefes indígenas, depois conhecida como Confederação dos Tamoios, foi a única resistência organizada contra a colonização portuguesa. Liderados pelo tupinambá Cunhambebe, de Angra dos Reis, o chefe Coaquira, de Ubatuba, Pindobuçu mais Aimberê, de Cabo Frio e Araraí, chefe dos Goianases, os indígenas, hábeis canoeiros e bons no arco e flecha, passaram a contar também com algum apoio armado dos franceses que ocuparam a aldeia dos cari ou cari-oca, a casa dos brancos, como os indígenas chamavam o Rio de Janeiro. Mas sendo calvinistas evangélicos, isso só reforçavam as razões para mais ataques dos católicos portugueses aos indígenas e aos “mairs” ou franceses.
Atazanando a vida
As constantes ações dos indígenas infernizavam e muito a vida dos lusitanos. Por exemplo, em 9 de julho de 1562, aos gritos de “jukaíkaraíba!” (morte aos portugueses!) os Tamoios atacaram em massa a então pequena São Paulo do Piratininga. Não fosse a ação de João Ramalho e do cacique Tibiriçá, hoje enterrados na igreja da Sé, por pouco São Paulo não foi varrida do mapa. Por isso, os “pêros” queriam negociar. Apelaram para os padres jesuítas José de Anchieta, que falava muito bem o tupi-guarani, e Manoel da Nóbrega, para que buscassem conversações de paz. Eles chegaram nas praias de Ubatuba em 1563, vindos de São Vicente num navio do italiano Francisco Adorno.
Foram recebidos em Iperoig pelo próprio Coaquira que os hospedou na sua aldeia de Iperoig. Os outros chefes foram chamados. As conversações eram longas, enroladas. Por exemplo: Aimberê perdeu as primeiras reuniões, chegou atrasado. Quando viu todos reunidos de boa, esculhambou com os outros chefes por já entrarem na conversa dos padres. Aimberê preferia ver Nóbrega e Anchieta assados e devorados junto com a cabeça de três chefes tupiniquins de São Paulo, entre eles Tibiriçá que ajudavam os pêros. Daí que as primeiras negociações não foram nada fáceis.
Comissão de frente
Aimberê era o mais revoltado pois tinha perdido mãe e irmãos num ataque português à sua aldeia de Uruçumirim e viu seu pai Cairuçú morrer por maus tratos como escravo. Ele próprio só se salvou fugindo de São Vicente. Aimberê impunha condições que envolviam a soltura de todos os indígenas escravizados e o fim das invasões de aldeias. Os padres negaram-se a entregar os outros chefes.
Foram vários dias de discussões e ameaças de morte. Venceram os argumentos dos caciques Coaquira e Cunhambebe. Decidiram mandar uma comissão de negociação, de volta a São Vicente para conversarem com as “autoridades” portuguesas, com Nóbrega, Aimberê e Cunhambebe. Foram meses de espera, entre maio e setembro. Anchieta tinha ficado aqui em Ubatuba como refém. Nesse entretempo, conta a lenda, que o padre que “sofria de espinhela caída” ou dor na coluna, era corcunda e teria escrito nas areias da Praia de Iperoig, 5.732 versos num poema à Virgem Maria, decorando-os para reescrevê-lo depois.
A paz de um ano
Em 14 de setembro de 1563, a comissão voltou com a notícia do acordo. Os portugueses prometeram que não escravizariam mais os tupinambá do litoral e esses, por sua vez, não atacariam as vilas e fazendas dos pêros. Isso ficou assim conhecido como a Paz de Iperoig. Mas a tal paz durou pouco mais de um ano. A guerra deu um pequeno alívio, mas as escaramuças retornaram. Os portugueses voltaram a atacar a aldeia de Coaquira. A Confederação voltou a mostrar força.
Cunhambebe havia morrido de varíola. Aimberê assume a liderança. Chefes de aldeias mais afastadas invadiam fazendas e engenhos em pequenos grupos. Foi quando o rei português apelou para Estácio de Sá, sobrinho do governador do Rio. A ocupação francesa de 10 anos já preocupava. Os indígenas também. Em 8 de janeiro de 1567, com o reforço de três galeões vindos de Portugal e dois navios de guerra com canhoneiras, 1.500 soldados mais ajuda dos indígenas de Araribóia.
Estácio de Sá começa um contra-ataque até o fim dos resistentes. Foram varridos do mapa. O próprio Anchieta, descreve em livro “os feitos de Mem de Sá, herói das plagas do Norte” com detalhes desta “batalha sangrenta em que as armas lançaram o inimigo, nativos e calvinistas, ao extermínio medonho, contando 160 aldeias incendiadas, mil casas arruinadas”.
Começa a colonização
Pestes como o sarampo e a varíola acabaram com os Tamoios restantes. Já no início do século 17, não havia mais nenhum indígena tupinambá no Sudeste do Brasil. Alguns poucos remanescentes refugiaram-se na Serra do Mar ou avançaram Brasil adentro. Dizimados os indígenas, colonizadores brancos puderam, enfim, ocupar as terras ubatubanas. Jordão Homem da Costa, fundador de Ubatuba, era um nobre português dos Açores, seguido por outros como Salvador Corrêia de Sá, nome da rua onde funciona o anexo da Câmara. Iperoig teve seu nome mudado para Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba conseguindo a emancipação em 28 de outubro de 1.637. A data é tida hoje como o aniversário da cidade.
Com a expansão do café no Vale do Paraíba, a cidade torna-se grande porto exportador. Em 1855 tornou-se Comarca de Ubatuba e em 1944 Estância Balneária. Hoje, Ubatuba luta para fortalecer-se como cidade turística, buscando desenvolvimento sustentável , cobrando saneamento, melhor educação, mais saúde e pela ampliação de oportunidades de trabalho.
O Brasão dos 5 indígenas
A história relata embates entre portugueses e indígenas até por volta de 1575, quando Aimberê morre próximo a Cabo Frio. Assim, restou a memória desta guerra de doze anos, tida hoje pelos historiadores como a maior organização indígena de resistência à ocupação dos brancos na história das três Américas. Toda cidade, todo pais tem seus símbolos cívicos, como a bandeira e os brasões. A bandeira do Brasil é um símbolo da pátria, por exemplo. Um brasão é uma espécie de desenho que conta um pouco da história da cidade.
Como nasceu o Brasão de Ubatuba
Em 28 de outubro de 1937, aniversário da cidade, o então prefeito Washington de Oliveira (“seu” Filhinho), enviou à Câmara o projeto de lei para instituir os símbolos ou o brasão da cidade com uma justificativa resumindo o significado dos mesmos: A cruz que foi empunhada pelos missionários José de Anchieta e outros, lembra o nome dado à cidade pelo seu fundador, Jordão Homem da Costa, depois de afastados os tamoios.
As duas plantinhas ou “dois caniços cruzados ao pé da cruz lembra as origens do nome Uba-tuba, palavra de origem indígena, significando lugar onde tem muitos pés de ubá, espécie de cana silvestre ou cana-do-rio usada para fazer flechas”.
Finalmente, a canoa com cinco remadores navegando no mar, lembra a atividade dos indígenas estabelecidos nesta região. Os 5 remadores na canoa são: Cunhambebe, Aimberê, Pindabuçu, Coaquira e Araraí, os chefes que formaram a Confederação dos Tamoios. Serve de timbre ao escudo, a coroa mural de ouro convencionalmente adotada para caracterizar as armas dos municípios e cidades.
Ideia de monumento
Os cinco tamoios, primeiros heróis genuinamente nacionais, foram assim, perpetuados no brasão de Ubatuba. O diretor da Câmara, Marcos Roberto dos Santos, estudioso da história ubatubana defende uma homenagem, digamos, mais concreta à memória local lembrando que a única cidade que valoriza a Paz de Iperoig é a cidade de Bertioga, que numa linda estátua de bronze, resgatou para o litoral a história de Cunhambebe.
Em discurso feito da Tribuna Popular, falando da Paz de Iperoig, ele sugere que “além da homenagem ao padre José de Anchieta, nesse monumento, que se dê aos nossos chefes Tamoios, ou seja, aos mais velhos da terras, Cunhambebe, o grande cacique, Aimbiré, Coaquira, cacique de Ubatuba, Pindobuçu e Araraí, justamente os cinco indígenas que remam na canoa do brasão desta cidade, uma estatua que homenageie e lembre a bravura e amor desses homens as terras caiçaras”.