O alemão Hans Staden esteve no Brasil por duas vezes e em sua segunda visita como prisioneiro do indígenas tupinambás em Ubatuba, foi o primeiro “turista” e aventureiro a registrar a vida dos indígenas do Brasil. Hans Staden registrou de forma majestosa e detalhada sua estada nas terras novas, e escreveu o que seria o primeiro livro sobre nosso país, seu povo e o modo de vida.
Primeira Viagem ao Brasil O livro foi publicado em Marburgo, Alemanha, por Andres Colben em 1557. O livro chamado “Duas viagens ao Brasil” teve sucessivas edições, constituindo-se num sucesso editorial devido às suas ilustrações de animais e plantas, além de descrições de rituais indígenas e costumes exóticos. Partindo de Bremen, na atual Alemanha, Hans Staden passou pelos Países Baixos e chegou a Portugal de onde partiu para a capitania de Pernambuco no Brasil, onde chegou em 28 de Janeiro de 1548. A embarcação portuguesa em que estava tinha o objetivo principal de recolher Pau-Brasil, mas também deveria combater quaisquer navios franceses que estivessem a negociar com os nativos, bem como deveria também transportar exilados portugueses remetidos para povoar a colônia.
O governador de Pernambuco, Duarte da Costa, que enfrentava uma revolta indígena na ocasião, pediu ajuda aos recém-chegados. Hans Staden e os demais rumaram para Igaraçu, próximo a Olinda, em um navio para auxiliar na luta. Igaraçu era, então, defendida por aproximadamente 120 pessoas, às quais se uniram os cerca de quarenta recém-chegados, incluindo Hans Staden. Enfrentaram 8000 indígenas e depois de uma renhida luta e de um cerco prolongado no qual vieram a faltar provisões, os defensores conseguiram, afinal, vencer os indígenas. Dias depois, enfrentaram um navio francês e, logo depois, retornaram à Lisboa, aportando em 8 de outubro de 1548.
Segunda Viagem ao Brasil Em sua segunda viagem, Hans Staden partiu de Sevilha rumo ao Rio da Prata em um navio espanhol em 1549, mas o navio veio a naufragar no ano seguinte, no litoral do atual estado brasileiro de Santa Catarina. Os integrantes da expedição, depois de passarem dois anos na região, decidiram rumar para a cidade de Assunção, sendo que, uma parte deles iria por terra e outra parte, por navio. Hans Staden se juntou ao segundo grupo e rumou para a cidade de São Vicente, onde tentaria fretar um navio capaz de chegar a Assunção.
Antes de chegar a São Vicente, porém, este outro navio que levava Staden naufragou (novamente) próximo a Itanhaém, e seus ocupantes conseguiram nadar até a praia e, da região de Itanhaém, foram a pé até São Vicente, onde Staden foi contratado como artilheiro pelos colonos portugueses, para defender o Forte de São Filipe da Bertioga, que se localizava nas proximidades da cidade. Enquanto caçava sozinho fora dos limites do forte, no ano de 1554 foi capturado pelo indígena tupinambá Nhaepepô-açu (“Panela Grande“) e dado em seguida de presente a um outro, de nome Ipirú-guaçu, (“Tubarão grande“), aprisionado, foi conduzido à aldeia de Ubatuba, permanecendo cativo na aldeia do chefe Cunhambebe, entre meados de janeiro e 31 de outubro de 1554.
Desde o início, ficou claro que a intenção dos seus captores era devorá-lo. Pouco tempo depois, os tupiniquins, aliados dos portugueses, atacaram a aldeia onde ele era mantido prisioneiro. Obrigado pelos tupinambás, Hans Staden lutou ao lado destes contra os tupiniquins, seu desejo era tentar fugir para unir-se aos atacantes, mas, estes, vendo que a resistência dos defensores era muito forte, desistiram da luta e se retiraram. Staden foi frequentemente ameaçado de morte e por pouco, não foi devorado num ritual antropofágico da tribo, conseguindo adiar a sua morte várias vezes ao longo dos meses.
Após sua captura, os tupinambás estranharam a cor de pele extremamente branca de Hans, pois acreditavam ser um “português”, mas devido ao biótipo diferente, e o alemão dizendo ser francês, foram fatores que contribuíram para adiar sua morte, pois na época, os tupinambás, aliados dos franceses, eram inimigos dos tupiniquins, estes aliados dos portugueses. Os antropólogos, porém, conhecendo hoje melhor os rituais de antropofagia, chegaram a conclusão que os indígenas tupinambás não o abateram por que Staden pareceu-lhes um covarde, cuja carne era indigna de ser ingerida por um valente tupinambá.
Uma curiosidade é que apesar de serem inimigos, portugueses e tupinambás eventualmente se encontravam para comercializar. Nesta ocasião chegava uma caravela lusa a praia de Ubatuba e disparava um tiro de canhão, para chamar os indígenas. Geralmente os portugueses vinham em busca de farinha e davam em troca como sempre , anzóis, facas e outras mercadorias do gênero. Um não confiava no outro e o negócio era concluído rapidamente.
Hans era tratado como um troféu de guerra pelos tupinambás, chegou a pedir ajuda a um navio português e a outro francês, ambos recusaram-se a ajudá-lo por não desejarem entrar em conflito com os indígenas. Após 9 meses de cativeiro, enfim, graças ao capitão Guillaume Moner, do navio corsário francês Catherine de Vatteville, Hans Staden foi resgatado, na verdade trocada a sua liberdade por muitos presentes, que os franceses deram aos indígenas, conseguindo então Hans retornar à Europa, e seguindo para sua cidade natal. De volta à Alemanha, Staden escreveu “História verdadeira e descrição…” (Marburgo, 1557): um relato de suas viagens ao Brasil que se tornou um grande sucesso da época.
Hans Staden – Tema de Livros Infantis e de um Filme Em 1925, Monteiro Lobato traduziu a primeira parte do livro de Hans e adaptou-a numa versão para jovens, e vários episódios foram publicados sob o título “As Aventuras de Hans Staden”.
O Filme Em 1999 foi lançado o filme “Hans Staden“, (com o título “Lá vem nossa comida pulando”), do gênero drama biográfico, dirigido por Luiz Alberto Pereira, com elenco português e brasileiro, entre eles, Stênio Garcia. Trata-se de um dos poucos filmes na história do cinema em que a língua falada pelos atores é, de forma predominante, o tupi. Para esta filmagem foi construída especialmente, uma réplica da aldeia onde Staden permaneceu prisioneiro, aldeia essa que posteriormente foi ocupada por indígenas tupi-guarany de Ubatuba e batizada de Aldeia Renascer, próxima ao Pico do Corcovado.
O elenco das filmagens, cuidadosamente preparado, recebeu aulas de Tupi com o apoio do professor Eduardo Navarro, linguista da Universidade de São Paulo – USP, e também recebeu aulas de dança, o que permitiu com que este encenasse com precisão os rituais que são mostrados na produção. A trilha sonora tem músicas indígenas e o filme ganhou o prêmio do júri como a melhor trilha sonora do Festival de Brasília em 2000.
Fonte de Informações: Livro “Hans Staden Viagens e Aventuras no Brasil” de Luiz Antonio Aguiar Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Staden