Trazida pela rainha Isabel de Portugal no séc. XVII, a Festa do Divino Espírito Santo é uma das mais antigas manifestações religiosas do Brasil. Em Ubatuba, essa manifestação ocorre de norte a sul há mais de dois séculos, segundo antigos caiçaras. No passado, até a década de 1950, a Festa do Divino Espírito Santo era a mais respeitada e valorizada festa de Ubatuba. As comunidades das praias e sertões se preparavam com antecedência para receber a Folia do Divino, que com seus foliões, visitavam a casa dos devotos com suas violas, rabecas e caixa seguindo a bandeira sagrada.

A Folia do Divino de Ubatuba vem sofrendo muitas alterações devido à atuação de vários fatores adversos, mas nunca perdeu a essência da fé e coletividade de nossa cultura. Atualmente a folia é composta por pessoas de várias extremidades do município, como Camburi, Almada, Ubatumirim, Prumirim, Sertão do Ingá e Horto. Filhos e netos de antigos foliões, essas pessoas levam consigo a arte e a cultura de um povo que resiste a tantas mudanças, a cultura caiçara. A peregrinação, que tem o apoio da FundArt, tem início no mês de março e vai até junho.

Atividades religiosas como procissão, missa e Novena do Espírito Santo, assim como ações socioculturais incluindo apresentações da tradição caiçara, shows musicais, barracas de comes, bebes, brincadeiras e jogos integram a programação da Festa do Divino de Ubatuba, que se realiza em meados de julho. O evento acontece na Praça Exaltação da Santa Cruz (praça da Matriz) e é considerado uma das principais atividades do calendário local, recebendo tanto moradores de Ubatuba quanto turistas de toda a parte.

A festa é uma realização da Paróquia Exaltação da Santa Cruz e tem o apoio da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (FundArt) e da Prefeitura de Ubatuba. A abertura da festa começa com uma missa e normalmente acontece procissão todos os dias e além da programação religiosa, há shows musicais todas as noites. Outro destaque do evento é o show de prêmios, que acontece no encerramento e as rodadas de bingo. 

No vídeo a seguir da FundArt temos um pouco da história da peregrinação da Folia do Divino Espírito Santo de Ubatuba:

Embora seu cunho religioso seja evidente, a Festa do Divino de Ubatuba é fortemente marcada por suas atrações socioculturais, como a tradicional tainha assada na brasa, Ainda que a alta temporada da cidade ocorra no verão, o evento é considerado uma das principais atividades do calendário local, recebendo milhares de pessoas, tanto da população ubatubense, como turistas do Vale do Paraíba, de cidades vizinhas, como Paraty, do interior do estado, do sul de Minas e da capital.

Outro componente importante nas festas comemorativas ao Espírito Santo é a utilização da folha de canela sobre o chão das igrejas, não só com o intuito de aromatizar a mesma, mas principalmente como símbolo da pureza. As setes flâmulas de cor encarnada localizados no interior da igreja ou até mesmo desprendendo-se das janelas das mesmas, tem a mesma simbologia dos raios e das fitas, isto é, representam os sete dons do Divino Espírito Santo. A festa hoje, no entanto, nem sempre se apresenta com todo este simbolismo, pois muitos deles foram alterados pela dinâmica popular.

Tainha na brasa
Um dos carros-chefes da festa, a tainha assada na brasa é também uma das principais razões de a festa ser realizada em Ubatuba no mês de julho. Embora o Espírito Santo seja lembrado no calendário litúrgico católico no dia de Pentecostes (em maio), os antigos caiçaras aguardavam o período em que as tainhas migravam do sul para a região para, então, festejarem em comunidade. Como o costume acabou virando tradição, a Festa do Divino de Ubatuba é sempre realizada em julho.

História da Festa do Divino
Na Festa do Divino, como é popularmente chamada, comemora-se a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e é realizada em homenagem a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: O Espírito Santo. O Divino Espírito Santo é representado pela pomba (sinônimo de mensageiro) e possuidor de sete dons: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus. Daí, quase sempre a pomba que o representa, possui sete raios ou sete fitas. A cor vermelha predominante tanto nas flores como nos andores e nos arranjos da igreja, representa para uns a chama ou a luz, da qual o Divino é portador e para outros o amor, pois para a igreja o amor é representado pela cor vermelha.

A pomba que representa o Divino pousa quase sempre sobre uma esfera azul (o Universo) o que significa o domínio do mensageiro (Divino) sobre o mundo, iluminando-o. Por isso mesmo as flores que compõem a bandeira da Folia do Divino, formam uma esfera que representa o universo iluminado pelo Divino Espírito Santo. Podemos observar por exemplo, que os sete raios que circundam o Divino, atualmente, nem sempre são representados por esse número e que as sete fitas que antes partiam da bandeira da Folia, hoje são representadas por inúmeras delas, pois um popular pode acrescentar outras em pagamento a uma promessa. Todavia o povo repete ano a ano, os rituais da Festa de acordo com o que diz sua fé e seu vezes da coração, independente, muitas compreensão de toda essa simbologia.

Segundo a tradição da igreja, o dia de Pentecostes significa que, após cinquenta dias de ressurreição do Senhor (50 dias após a Páscoa), o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos. Todavia, em Ubatuba, a Festa do Divino não é comemorada no dia de Pentecostes. A explicação se dá para tal fato é que, no passado, devido à grande importância que desempenhava a pesca da tainha, durante os meses de maio, junho e até mesmo principio de julho, a população local era obrigada a transferir as comemorações do Divino Espirito Santo para o mês de julho. Hoje a pesca da tainha não tem mais a mesma importância, porém a tradição de se realizar a festa no mês de julho continua.

Já não se festeja mais o Divino como antigamente. Naquele tempo, quando terminava uma festa, o novo festeiro, ou melhor o novo Imperador providenciava logo as corridas da folia do Divino Espirito Santo. Eram duas as bandeiras, mais um bando precatório composto de mordomo, chefe e recebedor das espórtulas (gorjetas), mestre, repentista que cantava e ritmava seus cânticos repicando o tambor, um rabequista, dois violeiros e um “típle”. Estes eram os foliões. As duas Folias partiam simultaneamente para os extremos do município: uma para o Camburi, ao Norte, outra para o Tabatinga ao Sul. De lá vinham para a cidade em lenta peregrinação, cantando de casa em casa.

Para a hospedagem no bairro apesar de gratuita – havia séria disputa e a honraria cabia ao mais generoso na espórtula ou ao mais influente junto ao imperador. Depois desta peregrinação, de bairro em bairro, a Folia chegava à cidade e após breve repouso partia para a segunda corrida que era manobrada de modo a aqui chegar em vésperas da Festa do Divino, para a qual extenso programa já estava organizado.

Fonte de Informações:
https://www.facebook.com/par.exaltacaodasantacruz
https://www.ubatuba.sp.gov.br/noticias/confira-a-programacao-da-152a-festa-do-divino-de-ubatuba/