Parque Estadual da Ilha Anchieta

Parque Estadual da Ilha Anchieta

O Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA), foi criado em 1977 e é um dos principais atrativos turísticos de Ubatuba, tanto pela importância histórica com as Ruínas do Presídio, suas belas praias e trilhas, seus excelentes pontos de mergulho e pela Mata Atlântica preservada. Antes de se tornar Parque Estadual, foi Colônia Correcional, Presídio Político e Prisão de Segurança Máxima. Localizada muito perto do continente, apenas à 600 metros, observada de longe, vemos duas enorme montanhas, o Morro do Papagaio e Morro do Farol, e por conta desta formação geológica, a ilha era chamada pelos indígenas de “Pô-Quã” que significa “Duas Pontas”.

Ilha Anchieta
Chegada a Ilha Anchieta

Chamada antigamente de Ilha dos Porcos, conhecida também por “Pérola do Litoral Norte e durante o funcionamento do presídio batizada de “Ilha do Diabo”. A ilha teve a atual denominação de Ilha Anchieta dada em 1934, como parte das festividades, do quarto centenário de nascimento do padre José de Anchieta.

Ilha Anchieta
Píer de chegada a Ilha Anchieta

O acesso é fácil por barco, lancha, SUP ou escuna, sendo que o passeio por escuna dura em média 4 horas. As saídas usuais são do Píer do Saco da Ribeira, da Praia da Enseada, do Itaguá ou do Lázaro, e no caminho até a ilha é comum receber a visita de golfinhos que acompanham a embarcação. Esta ilha é a segunda maior ilha do Estado de São Paulo, possui algumas trilhas terrestres abertas à visitação, uma trilha subaquática e abriga as ruínas da antiga prisão de segurança máxima do Estado de São Paulo.

Ilha Anchieta
Praia do Presídio – Ilha Anchieta

Está localizada em uma área de proteção ambiental criada através do decreto de lei 9.629 de 29 de março de 1977 e administrada pelo Instituto Florestal, órgão vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. É uma das áreas protegidas pelo governo, por sua importância devido a sua riqueza histórica e natural.

A reserva ecológica
A Ilha Anchieta conserva uma floresta exuberante, com diferentes estágios de formação: restingas, campos de samambaias, campos antrópicos e acredite, até um manguezal. A vegetação é rica, podendo encontrar árvores como a amendoeira-da-praia, a palmeira leque e ainda o coco-da-baía. 
Com uma área de 826 hectares (8,26 km²), a ilha abriga uma pequena fauna, a maioria introduzida na Ilha em 1983 pelo zoológico de São Paulo, cerca de 16 espécies de animais, sendo que a população de saguis, capivaras e quatis cresceu de forma desequilibrada, levando os biólogos e pesquisadores a pensar em uma forma de manejo destas espécies, que sempre estão atrás dos biscoitos dos turistas.

Ilha Anchieta - Macacos
Sagui na Ilha Anchieta

Levantamentos científicos constataram a presença de mais de 70 espécies de aves, entre as quais: sabiá, juriti, tangará, tiê-sangue, coleirinho, saíra, bem-te-vi, atobá, gaivota e beija-flor. Nas águas cristalinas que cercam a ilha são encontrados cardumes de tainhas, robalos, carapaus, sardinhas, peixes voadores, toninhas (golfinhos) e tartarugas marinhas, protegidos por um polígono de interdição de pesca de qualquer modalidade. Existe uma grande população de serpentes na ilha, entre elas, caninanas e jararacas, sendo necessário utilizar botas ao caminhar pelas trilhas. Uma outra curiosidade é a presença de enormes vespas caçadoras, que apesar de inofensivas, impressionam pelo tamanho.

Ilha Anchieta - Vespa
Placa orientando os visitantes a respeito das vespas caçadoras na Ilha Anchieta

No Parque Estadual é proibido acampar, pescar, retirar do mar ou dos costões qualquer espécie de flora ou fauna marinha, colher mudas, cortar plantas, levar animais domésticos e abrir caminho pela mata. Estando na ilha é possível encontrar o pessoal do projeto “Filhos da Ilha“, que são familiares, amigos e admiradores dos que viveram na ilha e estavam lá no dia da rebelião. Eles te contarão fatos que marcaram para sempre a história da ilha.

Mergulho na Ilha
A Ilha Anchieta é considerada um dos melhores pontos de mergulho do Brasil. O mergulho contemplativo é liberado, e a riqueza da fauna, flora e grandes peixes de passagem, permitem uma bela viagem pelo mundo submarino, bastante procurada para fotos submersas. A profundidade varia entre 3 e 12 metros e a temperatura média da água fica entre 20°C e 28°C.

No verão costumam ocorrer quedas bruscas na temperatura, chegando até 15°C, portanto, durante o mergulho, o uso de roupas isotérmicas é recomendável o ano todo. A visibilidade varia muito em função de correntes e condições climáticas, indo de 2 a 10 metros. O fundo é composto de costões rochosos e areia. Fauna e flora são abundantes, podendo-se observar corais cérebro, esponjas, algas, tartarugas, budiões, arraias-prego, garoupas, badejos e peixes coloridos, principalmente na Ponta Sul.

Trilha Subaquática – Extensão 350 metros (ida)
Esta trilha é uma atração na Ilha Anchieta, realizada desde 2001 conta com atividades de interpretação ambiental em três tipos: Trilha de Mergulho Livre, Trilha dos Ecossistemas e Trilha do Aquário Natural. Antes de entrar na água, os participantes recebem orientações para evitar impactos ambientais durante a prática. No caso da Trilha de Mergulho, os monitores ministram treinamento sobre técnicas e como usar o equipamento.

Ilha Anchieta
Trilha Subaquática – Foto de Priscila Saviolo

As atividades de mergulho são realizadas ao longo do costão rochoso entre a Praias do Presídio e a Praia do Engenho. Avistam-se estrelas do mar, coral cérebro, algas e muitos peixes. É uma atividade incentivada pelos instrutores do parque que permite ver com detalhes a rica fauna e flora da costeira e aprender junto com os pesquisadores a sua importância. Interessante é o flutuador que é utilizado durante esta trilha, construído com garrafas pets recicladas e que é muito apropriado para a atividade, uma perfeita boia de sustentação, além de ser ecologicamente correto.

Praias da Ilha
A ilha possui sete praias (Praia do Engenho, Prainha de Fora, Presídio, Sul, Leste, Palmas e Sapateiro) e existem várias trilhas para caminhadas. Cada praia por conta da dinâmica das correntes marítimas, tem uma formação de areia diferente, umas mais finas, outras mais grossas e com colorações diferentes. Costões cercados de Mata Atlântica levam à Praia do Sul. A Trilha da Prainha tem 530 metros de extensão e liga a “Praia do Presídio” à “Praia do Engenho”, onde em seu canto direito, grandes rochas formam uma piscina natural no mar (“Aquário”).

Ilha Anchieta - Mapa
Visão geral da Ilha Anchieta e suas praias – Imagem extraída do Google Maps

Praias do Presídio e do Sapateiro
As Praias do Presídio e do Sapateiro são as praias de recepção da Ilha. O píer usado para o embarque e desembarque dos visitantes é o que delimita suas fronteiras. Convém mencionar que no passado, não existia a divisão entre essas praias, era conhecido apenas como Praia do Presídio. 

Praia do Presídio - Ilha Anchieta
Praia do Presídio e Praia do Sapateiro divididas pelo píer

Estas praias são as primeiras avistadas pelo turista, ao chegar de escuna no píer da Ilha Anchieta. Elas têm areias amareladas, são praias de tombo onde não é aconselhável o nado para crianças, porém praias belíssimas de águas cristalinas e areia bem límpida.

Praia do Presídio - Ilha Anchieta
Praia do Presídio – Ilha Anchieta

Todas as construções da ilha ficam em suas imediações: o centro do atendimento ao turista, por exemplo, que funciona como guia e o museu da ilha, logo atrás do centro, onde estão localizadas as ruínas do antigo presídio.

Praia do Sapateiro – Ilha Anchieta

O local encanta tanto pela beleza, como pela história da rebelião de presos ocorrida em 1952, o que levou a desativação do presídio que ali funcionava. No canto direito da Praia do Presídio, temos um córrego de água doce, limpíssima, que vem de nascente. Não se sabe ao certo o motivo do nome Praia do Sapateiro, são duas opções. Uma delas diz que a razão é porque no dia da rebelião, na tentativa de fuga, muitos presos perderam seus sapatos neste local. Outra suspeita para o nome sapateiro, pode ter vindo por causa da lagosta sapateira que tinha em grande abundância no local.

Praia do Engenho
A Praia do Engenho, também chamada de Prainha, está localizada cerca de 530 metros à esquerda de quem desembarca no píer, por uma trilha fácil de 10 minutos de caminhada.

Praia do Engenho – Ilha Anchieta

As águas da Praia do Engenho são límpidas, tranquilas e propícias para receber as mais variadas embarcações trazendo visitantes e pesquisadores. A praia tem pouca extensão, areia predominante de cor amarela, mas com trechos com areia escura (monazítica), Mata Atlântica ao fundo e outro destaque é a ducha de água doce canalizada diretamente da montanha da ilha.

Praia do Engenho – Ilha Anchieta

No canto direito da Praia do Engenho, temos o acesso a uma prainha protegida do mar por pedras enormes, formando uma piscina natural de água salgada, local batizado de “Aquário”.

Aquário da Ilha Anchieta – Praia do Engenho

Este cantinho especial, recebe os visitantes que se encantam com os peixinhos. O mergulho livre é permitido com o uso de máscara e snorkel porém sem nadadeira para não incomodar os animais marinhos.

Ducha na Praia do Engenho
Ducha com água doce na Praia do Engenho

Curiosidade da Praia do Engenho
Se passarmos um ímã na areia escura desta praia, a areia “gruda” no ímã, mostrando que temos nesta composição, um tipo de material que tem propriedades magnéticas, a areia fica inclusive “polarizada” no ímã. Por esta razão, muitos especialistas recomendam passar no corpo esta areia, pois afirmam que descarrega energia, equilibra o organismo, e ajuda no tratamento de quem sofre com problema de reumatismo, isso tudo por conta das propriedades magnéticas.

Mirante do Boqueirão
No caminho para a Praia do Engenho, temos a possibilidade de subir no Mirante do Boqueirão com visual fantástico da baía principal da ilha, onde avistamos à esquerda, a Praia das Palmas e a sua frente, as belas montanhas da Serra do Mar, com destaque para o imponente Pico do Corcovado e o “Boqueirão”, como é chamado o estreito canal do mar, de grande profundidade, cerca de 40 metros, que separa a ilha do continente.

Acesso ao mirante do Boqueirão no caminho da Praia do Engenho

No lado do continente, temos a Ponta da Espia, onde no passado tínhamos uma guarita de observação / segurança do presídio, vigiando as ações dos prisioneiros e evitando fugas pelo mar. A distância entre a ilha e o continente é de aproximadamente 500 metros e a geologia explica que milhares de anos atrás a Ponta da Espia estava ligada ao que é hoje a Ilha Anchieta, e formava um “continuum” de Mata Atlântica.

Mirante do Boqueirão – No caminho para a Praia do Engenho

Devido ao aumento do nível do mar, hoje a conexão não é visível, ocorrendo na parte submersa e através de animais de voo longo (aves e morcegos), que transitam entre a ilha e o continente.

Praia das Palmas
A Praia das Palmas que no passado era chamada de Praia Grande da Ilha Anchieta, é a mais extensa de todas as praias da ilha. Localizada em uma enseada de águas tranquilas que banham sua orla, e fica à direita de quem desembarca na ilha. São apenas dez minutos de caminhada do píer por uma trilha plana e agradável, onde você pode avistar diversos animais da fauna local. No caminho, passamos por um orquidário (ou jardim das orquídeas), que é uma homenagem ao Sr. Tokuiti Hidaka, um imigrante japonês que foi prisioneiro da ilha, e resistindo aos tempos difíceis cultivava as plantas.

Praia das Palmas (antiga Praia Grande da Ilha Anchieta)

Falando sobre os japoneses que estiveram prisioneiros na Ilha Anchieta, eles tinham boa conduta e não havia necessidade de escolta quando andavam pela ilha. Eles faziam manutenção das cercas, dos jardins e foram os responsáveis em transformar a vegetação da Praia das Palmas que era somente grama. Fizeram hortas de alface, rúcula e plantação de abóboras. Inclusive um japonês que tinha conhecimentos de mecânica era o responsável pela manutenção do gerador da ilha. Temos um documentário que descreve mais detalhes da passagem destes japoneses no presídio, chamado: “O crime que abalou a colônia japonesa no Brasil”.

Orquidário na trilha para a Praia das Palmas – Homenagem ao Sr. Tokuiti Hidaka

A Praia das Palmas tem águas esverdeadas calmas e cristalinas, estreita faixa de areia branca, com costeiras rochosas e muitas pedras espalhadas. Um caminho para chegar ao meio da Praia das Palmas é percorrendo a Trilha da Restinga, que se inicia no canto direito da praia, com cerca de 715 metros e nos permite vivenciar sua fauna e flora. Esta área de restinga tem cerca de 15.000 m2 e foi muito devastada no passado, suas árvores foram retiradas para construir casas, para servir de lareira e fazer móveis. Nesse local ficavam as hortas dos japoneses e o campo de futebol, e acreditem, onde jogavam os presos contra times do continente e até contra os militares!

Início da Trilha da Restinga na Praia das Palmas

Na execução do projeto de restauração ecológica desta área degradada, foram replantadas mais de 30.000 mudas de árvores a a Trilha da Restinga, reserva algumas curiosidades fantásticas, caso de uma pequena árvore chamada de Calunga (Homalolepis insignis) ou Paraíba Mirim, planta endêmica do Brasil, que só existe em 3 Estados: Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. E no Estado de São Paulo, o único registro que temos é na Ilha Anchieta. ou seja, ela resistiu a devastação que ocorreu na ilha durante suas ocupações.

O vídeo a seguir mostra um pedaço da trilha e uma breve explicação desta área feita pela engenheira Marcela Pedro @pedro.limarcela com destaque especial para a “celebridade” da trilha: a Calunga!

A engenheira ambiental Marcela Pedro explicando um pouco da Trilha da Restinga

O professor José Pirani e o pesquisador Marcelo Devechi localizaram a Calunga na ilha no ano de 1998. E em outro momento, em uma iniciação científica, feita por uma engenheira florestal, fez-se o mapeamento de cerca de 700 unidades de Calunga. Esta árvore dá um fruto com gosto parecido com a mistura de pêssego com manga, muito apreciado pelos morcegos, cotia e paca, animais locais. Ah… o nome Paraíba Mirim vem por conta que tem algumas plantas geneticamente parecida com a Calunga e uma delas é encontrada na Paraíba.

Praia das Palmas – Ilha Anchieta

O Antigo Cemitério
Na Trilha da Restinga, também temos acesso às ruínas do antigo cemitério da Ilha dos Porcos (como era chamada a Ilha Anchieta). Localizado próximo ao meio da Praia das Palmas, apenas 50 metros do mar encontram-se os jazigos dos búlgaros e gagaúzos, em sua maioria crianças (cerca de 143) que faleceram ao se alimentar de mandioca brava.

Antigo cemitério da Ilha Anchieta
Antigo cemitério da Ilha Anchieta

Segundo registros, até o início do século XIX, a ilha fora habitada por indígenas e a tribo usava este terreno como cemitério, o mesmo utilizado pelos militares para enterro dos presos e moradores da praia.

Antigo cemitério da Ilha Anchieta

Na Praia das Palmas temos muitas árvores no entorno, sombreando a orla e é possível observar muitos peixes nos recifes. A Mata Atlântica ao fundo da praia compõe o belíssimo cenário natural. O mar com águas tranquilas, propicia fácil atracamento de embarcações, que escolhem o lugar para passar o dia e curtir a natureza.

Praia das Palmas – Ilha Anchieta

Praia do Sul
A Praia do Sul tem seu acesso de barco ou é possível o acesso por uma trilha se inicia logo após passar pela entrada para a Praia das Palmas, Uma trilha interessante por dentro da Mata Atlântica e bem sinalizada e este percurso só pode ser feito com a presença de monitores do parque.

Início da trilha para a Praia do Sul

A trilha para a Praia do sul se inicia logo após passar pela Praia das Palmas, são cerca de 1300 metros até chegar ao destino final. O esforço que não é grande é recompensador.

Praia do Sul – Ilha Anchieta

A Praia do Sul é uma pequena praia de águas verdes, pouco frequentada já que a grande maioria dos visitantes não se arrisca na trilha.

Praia do Sul – Ilha Anchieta

A trilha que já era utilizada antigamente pelos pescadores e moradores da região, foi muito devastada no passado e hoje passa por um processo de recuperação ambiental.

Trilha Praia das Palmas – Praia do Sul

É um percurso que está documentado com capacidade de carga e pontos interpretativos da Mata Atlântica, restinga, lendas, histórias e grande variedade de fauna, que é fonte de estudo para as escolas que visitam o Parque Estadual da Ilha Anchieta.

Mirante na Trilha para a Praia do Sul

No meio da Trilha para a Praia do Sul há um pequeno desvio, que leva até um mirante com vista para toda a enseada das Palmas. Ao chegar à esta praia paradisíaca, observamos as águas cristalinas do mar, vegetação de restinga e abundante vida marinha, sendo um convite para o mergulho livre.

Praia do Sul – Ilha Anchieta

Praia do Leste
Seu acesso convencional é somente de barco, isso porquê as trilhas que levam até ela partindo da Praia do Presídio por exemplo, usadas por pesquisadores nunca foram abertas para turistas e estão fechadas pela mata. É uma praia pequena de águas límpidas, faixa de areia amarela, com um córrego de água doce em seu canto esquerdo, ideal para se tirar o sal depois de um dia de praia. A beleza do lugar é impressionante, preservada como originalmente sempre foi, e tendo ao fundo a presença da Mata Atlântica.

Praia do Leste – Imagem de @brunoamirimagens

Curiosidades da Praia do Leste
Em 14/9/1997, uma estátua de Jacques Costeau, com 1,80m, pesando 300Kg, foi colocada a nove metros de profundidade próxima ao costão rochoso na Praia do Leste, pela Associação das Operadoras de Mergulho de Ubatuba. O objetivo foi estimular a prática deste esporte e também uma homenagem ao cientista francês e “pai do mergulho”.

Estátua de Jacques Cousteau restaurada exposta na Praça da Baleia região central de Ubatuba

Posteriormente a estátua foi retirada para restauração, e hoje encontra-se na Praça da Baleia, próxima a região central de Ubatuba. Outra curiosidade desta praia é que em 1850, a Inglaterra montou um forte neste local, uma base da marinha inglesa, para combater o tráfico de escravizados (os navios negreiros). Procurando com cuidado, é possível achar ruínas deste forte.

Praia de Fora
A Praia de Fora da Ilha Anchieta, também chamada de Prainha de Fora, Prainha do Leste, Praia de Dentro ou somente Prainha, tem seu acesso usual de barco, visto que não temos trilha aberta pela mata para chegar até ela. Ela fica bem ao lado da Praia do Leste, e é uma praia com pequena extensão de areia amarelada, com muitas pedras em seu entorno, algumas pedras enormes e submersas em suas águas o que também dificulta a aproximação de embarcações.

Praia do Leste e Praia de Fora @brunoamirimagens
Prainha de Fora e Praia do Leste (à direita) – Imagem de @brunoamirimagens

O local é praticamente desconhecido, pouquíssimo explorado. Alguns nadadores e mergulhadores chegam até a Prainha de Fora, vindo da Praia do Leste. Estudos científicos realizados nesta praia, encontraram um antigo artefato lítico, bifacial, bem trabalhado.

Prainha de Fora - Ilha Anchieta
Prainha de Fora – Imagem de @brunoamirimagens

Os artefatos feitos de pedra, também chamados de líticos, são ferramentas usadas para as mais variadas tarefas e que, por isso, podem nos informar muito sobre a caça, a pesca, a agricultura e a tecnologia, para transformar materiais brutos em bens manufaturados, para construir habitações ou para remodelar os terrenos onde eram instaladas as aldeias. Esta pequena prainha pode esconder um tesouro arqueológico.

Além das praias paradisíacas, a Ilha Anchieta guarda trilhas repletas de aventura, lazer e muita história. As informações sobre as trilhas podem ser obtidas no Centro de Visitantes do Parque Estadual Ilha Anchieta, de onde partem os grupos para os percursos monitorados. Localizado próximo ao píer, é ali que ocorrem palestras sobre a Unidade de Conservação, assim chamadas as áreas com características naturais relevantes, que estão sob proteção. E claro, convém lembrar que algumas trilhas só podem ser percorridas com a presença de um guia credenciado do Parque Estadual da Ilha Anchieta.

Trilha do Saco Grande
A extensão desta trilha é de 2.800 metros (ida e volta) e a caminhada começa logo atrás da Praia do Presídio percorrendo uma área direcionada a estudos e pesquisas.

Início da Trilha do Saco Grande

Um pouco antes de entrar na trilha, temos as ruínas da antiga “Casa do Médico”.

Trecho da Trilha do Saco Grande

Uma curiosidade é que esta “Casa do Médico” dava atendimento ao pessoal da Ilha Anchieta, mas também vinham pacientes do continente se tratar, e um dos atendentes que prestava serviço era o Sr. Filhinho, conhecido na cidade por ter sido prefeito e farmacêutico.

Capela Santa Cruz na Trilha do Saco Grande

No início da trilha temos uma leve subida e em cerca de 400 metros, chegamos às ruínas do antigo quartel da Força Pública (onde foram mortos soldados e civis na rebelião de 1952), ruínas da Vila Militar e da Casa do chefe da disciplina. Nesta trilha também tínhamos a antiga fábrica de tijolos: Olaria SEIA (Serviço de Engenharia da Ilha Anchieta).

Ruínas da Vila Militar

As famílias dos militares que serviam na ilha moravam na vila militar, formada por 28 casas, divididas em duas fileiras de 14 residências geminadas. Nesta Trilha do Saco Grande ainda temos a Ducha do Maneco e no final da trilha, no costão rochoso, deparamos com um mirante das ilhas da região e do mar aberto.

Ilha Anchieta - Ruinas do Quartel
Ruinas do Quartel na Trilha do Saco Grande

Curiosidade sobre o Quartel
O motivo que levou à construção do quartel foi a necessidade estratégica de ter uma vista panorâmica da baía das Palmas, pois nessa baía também foi construído o píer da Ilha Anchieta, próximo ao presídio. Havia uma forma interessante de comunicação com o continente. O soldado encarregado de fazer a vigilância da baía se comunicava com outro instalado na Ponta da Espia, que fica no continente, entre a Praia da Enseada e a Praia de Fora. Ambos se comunicavam hasteando lençóis, o branco significava que tudo estava ok, mas se fosse substituído por vermelho ou preto era sinal de que haviam problemas.

Trilha da Represa
É um percurso com cerca de 700 metros (ida e volta) de dificuldade moderada, basicamente uma subida constante em meio a bromélias e orquídeas, com um ponto de observação panorâmica das Ruínas do Presídio e da Enseada das Palmas e que passa pela antiga Usina de Força.

Represa da Ilha Anchieta – Imagem de @brunoamirimagens

Esta é uma trilha interpretativa, cujo objetivo principal desta visita monitorada é abordar a temática dos recursos hídricos e a geração de energia hidrelétrica. Durante seu trajeto, é possível avistar pequenos mamíferos da fauna introduzida ao local e espécies de pássaros silvestres, como as saíras, sanhaços e sabiás.

Represa da Ilha Anchieta

Histórias da Ilha Anchieta, o Presídio, Rebelião, Fatos e Lendas
O primeiro “dono” desta ilha que se tem notícia, foi o cacique Cunhambebe, o mais poderoso chefe da nação Tupinambá, sendo que um dos seus prisioneiros mais famosos, foi o alemão Hans Staden, conhecido como o primeiro “turista” a visitar Ubatuba e descrever o dia a dia dos indígenas. Em torno deste cacique é que se articulou todo o trabalho do padre José de Anchieta a fim de conseguir a “paz” entre os portugueses e os indígenas do litoral, chamados de Tamoios (que quer dizer “os primeiros” ou os “donos da terra”), surgindo também daí a reunião indígena “Confederação dos Tamoios”.

Ruínas do Presídio
Ruínas do Presídio

A ilha nessa época era conhecida como a Tapera de Cunhambebe, eles a chamavam de “Tapira”, traduzido como “lugar calmo”, e a ilha também era denominada como “Pô-Quã” (que quer dizer “pontuda”), provavelmente por se referir as duas montanhas de seus extremos: Morro do Papagaio e Morro do Farol.

Cronologia de fatos na Ilha Anchieta
Habitada por indígenas, dentre os quais, Cunhambebe, desde que se tem conhecimento, a ilha Anchieta recebeu os primeiros colonizadores ingleses, franceses e holandeses aproximadamente no ano de 1600. Suspeita-se que por volta de 1803 começaram as primeiras construções do que mais tarde viria a ser o presídio da então ilha dos Porcos.
– Em 1800 um destacamento do exército português, se instalou para garantir a posse da terra.
– Em 1850 a ilha abrigou uma base da marinha inglesa, instalada na Praia do Leste, para combater o tráfico de escravizados (os navios negreiros).
– No início de 1870 a ilha já estava bastante povoada e tinha plantações de café, cana e até engenhos de pinga.
– Em 1885 a ilha passou a ser denominada Freguesia do Senhor Bom Jesus da Ilha dos Porcos.
– Em 1902 foram desapropriadas cerca de 412 famílias, para dar início a construção do projeto do arquiteto Ramos de Azevedo, da Colônia Correcional, destinada a recolher os “homens bêbados e os considerados vadios”.
– Em 1908 foi inaugurada a “Colônia Correcional do Porto de Palmas” com 8 pavilhões em aspecto de “vila” pois a intenção era abrigar presos “não perigosos” em um ambiente harmônico, propício a recuperação.
– Em 1914, com a difícil e dispendiosa manutenção, a colônia foi desativada e os internos foram transferidos, para a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté e para o Instituto de Reeducação de Tremembé no Vale do Paraíba.
– Em 1926, o governo paulista, após expulsar os caiçaras que haviam ocupado a ilha, enviou cerca de 2.000 imigrantes colonos búlgaros e gagaúzos, fugitivos da revolução russa de 1917. Eles aportaram em São Paulo no começo deste mesmo ano  e foram alojados na Hospedaria dos Imigrantes. Porém, em função da notícia que um regime escravocrata era utilizado nas fazendas de café, se revoltaram, negando-se a aceitar este trabalho. A Força Pública foi convocada e a alternativa foi embarcá-los à força para a Ilha dos Porcos, (nome antigo da Ilha Anchieta). Tentaram sobreviver na ilha, porém sem saber distinguir nas plantações nativas indígenas a colheita certa, em busca de um reforço na alimentação, ingeriram mandioca brava (que contém alta concentração de ácido cianídrico e pode provocar intoxicação grave se não for bem cozida). O resultado foi a morte de 151 imigrantes, dos quais, 143 crianças, em um período de 100 dias. Seus corpos repousam no antigo cemitério da Ilha Anchieta.

Ruínas do Presídio - Destaque para o acabamento da parede, sobre os tijolos, temos massa de cimento, imitando blocos
Ruínas do Presídio – Destaque para o acabamento da parede, sobre os tijolos, temos massa de cimento, imitando blocos

Na década de 1930, as edificações do presídio passaram por uma reforma, com o intuito de receber presos políticos da ditadura Getúlio Vargas, tendo ocorrido uma revolta em 1933, em que cerca de cem presos depredaram as instalações e tomaram o controle da guarda. Contudo, a situação foi controlada, não havendo mortos.
– A ilha foi chamada de “Ilha dos Porcos”, que era um nome de cunho pejorativo, que durou até 19/03/1934, quando da comemoração do quarto centenário de nascimento do Padre José de Anchieta. O então presidente Getúlio Vargas, através de seu interventor Armando Sales de Oliveira, altera o nome da ilha para Anchieta, e o presídio, “Instituto Correcional da Ilha Anchieta”.
– Os prisioneiros políticos foram transferidos para a penitenciária da ilha, juntando-se a detentos comuns, presos de alta periculosidade, menores infratores, incluindo aqueles sem nenhum processo, muito menos condenação, os considerados “vadios”.
– Tem-se a informação que Graciliano Ramos, também ficou preso na Ilha Anchieta, antes de seguir para Ilha Grande (Instituto Penal Cândido Mendes), local onde escreveu uma de suas obras: “Memórias de um Cárcere”, um livro de memórias, publicado postumamente, em setembro de 1953, em quatro volumes. O autor não chegou a concluir a obra, faltando o capítulo final. Graciliano havia sido preso em 1936 por conta de seu envolvimento político com a chamada Intentona Comunista, de 1935. A acusação formal nunca chegou a ser feita e Graciliano foi preso sem provas e sem processo.

Ruínas do Presídio

– Em 1945, chegou à ilha outro grupo de presos políticos, chamado de “Shindo Romei”, idealistas japoneses que durante a segunda guerra mundial, executavam seus compatriotas aqui mesmo no Brasil, por considerá-los amigos dos brasileiros e, por conseguinte, traidores do Japão. Nesta época a população carcerária da ilha chegou a 950 detentos.
– Em 1952 aconteceu a “Grande Fuga”. Sob a liderança de Pereira Lima, Faria Lima, Diabo Loiro e China, 107 presos fogem do presídio, abrindo caminho a balas pela praia num confronto que matou 8 soldados e 4 funcionários penitenciários. Foi a maior evasão de detentos da história carcerária mundial. Relatos de presos se entregando e, mesmo assim, sendo massacrados até a morte e de presos fiéis ao presídio lutando ao lado dos policiais são encontrados até hoje em obras que tratam do assunto.
– Em 1955 o presídio foi desativado definitivamente e apenas em 1969, por um projeto chamado FUMEST, suas ruínas são transformadas em atração turística pelo governador Abreu Sodré.
– Em 1984 o governador Franco Montoro cria o Parque Estadual da Ilha Anchieta, e a ilha se torna um grande polo turístico de Ubatuba.
– Em 1999, tivemos uma reforma, que recuperou instalações de infraestrutura turística.

A Maior Rebelião da História Mundial
Basicamente em 1950, a estrutura da ilha era dividida em Presídio, Vila de Moradores (Vila Militar) e Vila do Quartel. As celas do presídio foram construídas de modo a formar um pátio retangular com 8 pavilhões e chegou a abrigar de 50 a 60 detentos, e era nesse pátio que os presos ficavam soltos o dia todo, no final da tarde, início da noite, o carcereiro fazia a contagem e eles eram recolhidos para as celas. Na época, no pátio, não tínhamos este gramado verde, era terra batida e existia algumas árvores e coqueiros. Hoje, uma das curiosidades deste lugar é que o gramado está sempre aparado perfeitamente, e isso é feito pelas capivaras que fazem este “serviço de jardinagem”, se alimentando da grama.

Ruínas do Presídio

No início da década de 1950, estavam confinados na ilha, cerca de 453 presos, e havia bastante animosidade entre grupos rivais, que se enfrentavam no pátio, e os cerca de 50 policiais tinham grande trabalho para conter estes conflitos, sendo o principal líder dos presos, o perigoso João Pereira Lima, o “Pernambuco”.

A rotina do presídio mudou quando chegou para cumprir pena, Álvaro da Conceição Carvalho Farto, o famoso “Portuga”, um criminoso com conhecimentos de engenharia e muito inteligente. Aos poucos Portuga passou a influenciar os outros presos, dando funções específicas a cada um, organizando a vida interna, o que diminuiu os conflitos. Alguns presos pescavam, outros cuidavam da lavoura e outros do corte de árvores. Mas as intenções do Portuga não eram bem essas.

Tendo criado uma organização entre os presos, passou a arquitetar um plano para uma rebelião, que incluía a tomada do presídio e das armas que ficavam no quartel do Morro do Papagaio. Sob a influência do Portuga, os detentos passaram a ser mais cordiais e gentis, se aproximaram bastante dos policiais e até da população da ilha, num clima de confiança e paz que na verdade era o preparatório para o golpe.

Ruínas do Presídio

O meio de comunicação da ilha com o continente era uma sala onde ficava a estação de rádio telégrafo, operado por um sargento e na mesma sala, ficava a barbearia. Uma das ações dos líderes da rebelião foi infiltrar o preso conhecido como “Mão Francesa” para trabalhar nesta barbearia do quartel, e sua função era conhecer detalhes do local e a rotina dos militares. Uma semana antes da rebelião, este preso já havia tinha em mãos, o croqui do prédio e as informações do local onde ficavam guardadas as armas, facilitando as ações dos criminosos.

20 de Junho de 1952
O dia escolhido para a ação foi 20 de junho de 1952, em função das comemorações de São João, apenas 17 funcionários civis e 28 militares estavam de serviço no dia, em outras datas, esse número dobrava.  Logo pela manhã, 110 presos foram buscar a lenha que já havia sido cortada por outro grupo de 12 presos. Estes 110, foram acompanhados por apenas dois soldados e dois guardas civis do presídio. Um dos soldados que acompanhava os presos foi morto, outro dominado e amarrado em uma árvore, assim como os dois guardas civis.

Rebeliao-na-Ilha-Anchieta
Rebelião na Ilha Anchieta

João Pereira Lima, assumiu o comando da rebelião, e os detentos retornaram ao presídio, e no início do ataque ao quartel, com um tiro de fuzil, matou o “armeiro” (soldado Otávio dos Santos), e depois iniciou-se um confronto com os demais soldados. Os detentos invadiram a reserva de armas e se apoderaram de fuzis, mosquetões, metralhadoras, revólveres e farta munição.

Invadiram todas as dependências do presídio, arrombando as portas dos pavilhões e das celas, libertando todos os detentos e atacaram as residências do diretor e do tenente da Guarda Militar. A vitória dos presos foi completa, estouraram o cofre forte do presídio, executaram alguns soldados e agentes penitenciários e em liberdade passaram a dar as ordens na ilha. Em meio a toda esta desordem, uma voz se fez ouvir; “Se eu souber que alguma mulher ou criança foi maltratada, o autor terá morte pelas minhas mãos…..nosso fim é a fuga”. Frase proferida por João Pereira Lima, o líder da rebelião.

Ruínas da Vila Militar na Trilha do Saco Grande

Naquele dia, por volta das 12 horas, chegaria a embarcação, chamada “Ubatubinha”, trazendo mantimentos, como sempre acontecia uma vez por mês. Os presos planejavam tomá-la de assalto para fugir da ilha. Mas a ação não aconteceu como o planejado, pois os criminosos, embriagados, circulavam armados pela ilha, incendiaram alguns lugares e a tripulação da embarcação percebeu que havia algo errado, decidindo não atracar na ilha. Alguns rebelados começaram a fugir nadando até o continente, outros em canoas e em barcos menores, o maior deles era uma lancha chamada “Carneiro da Fonte”, com capacidade para cinquenta pessoas.

Esta lancha seguiu no sentido da Praia do Ubatumirim, com cerca de 90 detentos e destino final Paraty, dizem que para aliviar a carga, alguns foragidos mais pesados foram jogados ao mar, e devido a imperícia do “piloto” a lancha chegou em alta velocidade a praia, encalhando e causando a morte de alguns. Muitos foragidos conseguiram chegar em terra nadando e se embrenharam na mata. Um forte aparato foi preparado para recapturar os fugitivos, envolvendo a Marinha, Exército e Aeronáutica, além das forças públicas de São Paulo e Rio de Janeiro, em uma ação que durou vários dias. A maioria dos fugitivos foi recapturada na Serra do Mar, nas regiões de Caraguatatuba, Ubatuba e Paraty. Os que ficaram na ilha, renderam-se e a situação foi controlada pelos policiais.

Ilha Anchieta anos 1950 - Foto do arquivo pessoal de Odaury Carneiro
Ilha Anchieta anos 1950 – Foto do arquivo pessoal de Odaury Carneiro

De um total de 129 fugitivos, 15 foram mortos nos conflitos com a polícia no continente na Serra do Mar,  porém seis nunca foram recapturados. A rebelião deixou ao todo 28 mortos, sendo 18 presos, 8 policiais e 2 funcionários civis. E o grande líder, Portuga, que tinha problemas cardíacos, foi encontrado morto na ilha. De 1952 a 1955, a ilha sediou um fórum, com juiz, promotor e 20 advogados, com a finalidade de julgar os presos capturados. Em 1955, o presídio da Ilha Anchieta foi desativado e os presos transferidos para a Casa de Custódia de Taubaté, um presídio de segurança máxima. Esta foi uma rebelião histórica, notícia em todo mundo e quem visita o presídio tem acesso as informações sobre a construção do prédio, os presos que lá estiveram, o plano de fuga e a rebelião.

Ruínas do Quartel

Mais uma curiosidade das Ruínas do Presídio
O piso utilizado na cozinha ainda está em razoável estado de conservação, apesar de ter mais de 100 anos, e ele brilha. Isso porque tem uma alta concentração de “mica” um mineral encontrado por exemplo na areia monazítica, o que leva a crer que os ladrilhos deste piso foram manufaturados na própria Ilha Anchieta. E provavelmente a “mica” foi extraída das areias da Praia do Engenho que tem um misto de areia amarelada e areia monazítica.

Piso da cozinha nas Ruínas do Presídio – Ilha Anchieta

Projeto Filhos da Ilha Anchieta
“Filhos da Ilha” é como são chamadas as pessoas que nasceram, moraram e/ou trabalharam na Ilha Anchieta na época da rebelião. Trata-se de um encontro destes remanescentes, que acontece anualmente, para relembrar o trágico acontecimento de 1952. O que antes era motivo de tristeza, hoje é um evento marcado pela solidariedade, paz e emoção. Familiares de pessoas que viveram, trabalharam ou estiveram presas na época, se reúnem para não deixar que a história se perca.

Edson Conti (Curiosidades de Ubatuba) e Tenente Samuel (autor do livro Ilha Anchieta – Rebelião e Fatos)

O projeto teve início num encontro em Taubaté com 63 pessoas, e atualmente conta com algumas centenas de pessoas, que lotam as escunas em busca de um resgate social e histórico, além da confraternização e um belo passeio marítimo. Também é celebrada uma missa na capela da Ilha por intenção daqueles que perderam a vida no levante de 1952 e também por todos os “Filhos da Ilha”, tanto os que moraram no local como de seus descendentes.

Filhos da Ilha – O resgate da história
Este evento de resgate da história da rebelião do presídio da Ilha Anchieta, denominado “Filhos da Ilha”, foi organizado pelo Tenente Samuel, oficial da Polícia Militar já reformado, que nada tem a ver com a rebelião na ilha, senão a paixão pela história e uma série de coincidências que o levaram promover esses encontros. “Não planejei nada, foi acontecendo naturalmente”, afirma o Tenente Samuel Messias de Oliveira. Ele não trabalhou no Instituto Correcional da Ilha Anchieta, que foi o primeiro presídio de segurança máxima do estado de São Paulo, mas trabalhou em diversos outros presídios, como o Carandiru, a FEBEM e o Instituto de Reeducação de Tremembé. Neste último, conheceu João Pereira Lima, o líder da rebelião e teve contato com policiais e soldados. Antes disso, havia lido o livro “Motim na Ilha”, que representou seu primeiro contato com a história.

Mais tarde, o tenente resolveu ir conhecer a Ilha “pessoalmente” e encontrou o presídio em ruínas, bem como a sua história, como se fosse algo a ser esquecido. A partir disso, começou a pesquisar e escrever a história em jornais e livros, para homenagear os sobreviventes. Samuel conta que, a princípio, era muito doloroso para os sobreviventes resgatar esse passado traumático, lembrar do massacre que deu origem a um filme italiano denominado “Mãos Sangrentas”.

Filhos-da-Ilha-Anchieta - Livro
Livro escrito pelo tenente Samuel

“No primeiro encontro, quando exibi o filme da minha primeira visita à Ilha, muitas pessoas se emocionaram, passaram mal, mas aos poucos, eles foram reassumindo sua história. Hoje eles têm orgulho de serem descendentes do povo da Ilha. O encontro “Filhos da Ilha” representa um resgate espiritual, psicológico e social, onde histórias vêm à tona, as mágoas são dissipadas e o que predomina é a emoção e a solidariedade”.

História ou Lenda…
Segundo registros, até o início do século XIX, a ilha fora habitada por indígenas e a tribo usava o centro da Praia Grande (hoje conhecida como Praia das Palmas), três minutos das areias adentro, um terreno como cemitério, o mesmo utilizado pelos militares para enterro dos presos e moradores da praia.

Alguns pescadores contam a história, que afirmam ser verdadeira, que na época em que a pesca era liberada, eles passavam a noite acampados na Praia Grande e lá passavam o picaré (pesca de dois ou mais homens. A rede vertical de aproximadamente um metro e meio é presa por um bambu em ambas as laterais).

Um homem segura um extremo no raso, enquanto o outro entra no mar preparando o cerco e, no momento certo, ambos puxam a rede para a praia), porém ninguém ousava ultrapassar a terceira amendoeira ao lado direito da praia, após a meia-noite. Esta era assombrada: assobiava, sem que ninguém estivesse lá e só ela balançava como se estivesse ventando forte. Dizem que ficavam arrepiados e apavorados, que isso só podia ser coisa de alma penada. Mas, isso é coisa do passado…

O Tenente Samuel escreveu quatro livros sobre o palpitante tema:
–  “Ilha Anchieta – Rebelião e Fatos”.
–  “Casa de Custódia de Taubaté” – em parceira com o Coronel Lamarque Monteiro.
–  “Ilha Anchieta – O Prisioneiro do Pavilhão 6”.
– “Rebelião da Ilha Anchieta – Relatos de um Sobrevivente”.

A Capela da Ilha
No dia 6 de agosto é comemorado o Dia do Senhor Bom Jesus, padroeiro da Ilha Anchieta. Esta é uma comemoração histórica que era feita na metade do século XIX, em 1850, quando a Ilha Anchieta era chamada de Ilha dos Porcos.

Capela Senhor do Bom Jesus – Ilha Anchieta

Naquela época, a ilha era um povoado da comarca de Ubatuba bastante habitada, que contava com casas, plantações, pequenos negócios, uma escola, uma capela e um cemitério. Já naquela época, no dia 6 de agosto, a Festa do Padroeiro Senhor Bom Jesus da Ilha dos Porcos era feita na mesma capelinha que existe hoje. Em 1999, a Capela da Ilha Anchieta, projeto original de autoria do arquiteto Ramos Azevedo, foi restaurada graças a uma parceria entre a prefeitura de Ubatuba, a Igreja Católica, a Polícia Militar e a Diretoria do Parque Estadual da Ilha Anchieta.

Capela na Ilha Anchieta
Interior da capela Senhor do Bom Jesus – Ilha Anchieta

No dia de Bom Jesus houve uma procissão de barcos levando a imagem esculpida pelo artista Da Motta, com a presença de todos os envolvidos nesta tarefa, bem como de muitos familiares e antigos moradores da Ilha Anchieta. Uma curiosidade é que quando o Projeto TAMAR era na Ilha Anchieta, esta capela recebia as exposições.

Vejam este vídeo promovido pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de SP, com os apresentadores Celso Cavallini e Izadora Bicalho, mostrando a Ilha Anchieta com detalhes:

Ilha Anchieta – Vídeo promovido pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Fontes das Informações:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Estadual_da_Ilha_Anchieta
https://www.ilhaanchieta.com.br/#/paginas/historia-anchieta
https://www.tenentesamuelmessiasdeoliveira.com/projeto-filhos-da-ilha
https://naturam.com.br

https://www.litoralbrasileiro.com.br/sp/ubatuba/ecoturismo/ilhas-ubatuba/
https://www.ubatubavirtual.com.br/sapateiro.htm
https://naturam.com.br/ilha-anchieta/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rebeli%C3%A3o_da_Ilha_Anchieta