Neste post mostramos um pouco da história da Comunidade Quilombola do Camburi, em especial a famosa “Toca da Josefa” localizada “3 morros acima” da Cachoeira da Escada, aproximadamente 550 metros acima do nível do mar. Com fotos e vídeos de nossos amigos @cristiano_trilhas e Ney @viannaney, incluindo o registro de uma jararaca que estava bem no caminho para a toca e que foi retirada com todo cuidado para não machucá-la.
Segundo relatos dos moradores da comunidade, um grupo de negros, liderado por uma escrava chamada Josefa, que vieram fugidos de fazendas da região de Paraty–RJ, teria sido um dos primeiros a ocupar a área. Muitos moradores se referem à escrava Josefa como uma “parenta” distante e o lugar onde ela teria se refugiado até hoje se mantém na comunidade como um marco histórico: a Toca da Josefa. Ela era bonita e corajosa.
Dona Josefa morou até o fim de sua vida nesta toca, e era a única do grupo que descia de tempos em tempos à praia para pegar mariscos, peixes e outros alimentos, destacando-se assim como líder do grupo e dando origem aos primeiros descendentes quilombolas da região norte do município. Fonte de parte do texto: José Ronaldo, editor do blog estação memória Camburi.
Narrativa de Cristiano Santos para chegar até a Toca da Josefa:
Tinha imensa vontade de conhecer a tão falada e histórica Toca da Josefa, depois de duas tentativas frustradas, alguns meses depois acordei no dia 06/10/2020 com uma mensagem no celular. Ney Viana, vulgo “Apache”: “Bora pra algum lugar”, e de imediato veio na minha cabeça, Toca da Josefa. Assim o chamei e combinei sairmos de casa às 9:00hs, horário meio tarde.
Mas foi assim que começou, saímos de casa de moto, seguimos pela rodovia Rio-Santos sentido a Paraty, exatamente no bairro do Camburi, e pelo caminho fui descrevendo alguns pontos que poderíamos nos aventurar, mas não saía da minha cabeça a Toca da Josefa. Afinal já tinha tentado duas vezes chegar lá, uma vez peguei o caminho para a esquerda, passando em cima da cachoeira da escada, e outra vez fui para a direita sem sucesso. Então chegando na entrada da trilha, no lado direito da Cachoeira da Escada, subindo por uma “picada” no meio da mata, seguimos em frente, e já nos deparamos com várias bifurcações, então pensei, já segui tanto para a direita quanto para esquerda.
Foi quando o Ney (Apache), decidiu que deveríamos subir na trilha central, escondemos a moto no mato e partimos. Começamos a subir pela trilha e logo no começo encontramos uma cobra coral, infelizmente morta, ali falei para o Ney sobre a importância do uso da perneira. Seguimos adiante subindo em meio a mata, não sabia a localização e nem altitude que iríamos encontrar a toca da Josefa. Pelo caminho passamos por várias árvores caídas, logo mais a frente chegamos a margem do rio que deságua na Cachoeira da Escada, e procuramos a continuação da possível trilha para a toca, graças a Deus gastamos apenas 2 minutos para encontrar.
Atravessamos o rio para o lado esquerdo e continuamos a seguir, parecia uma eternidade a subida, e minhas pernas estavam pesadas devido ao treino funcional que fiz no dia anterior, mas a vontade de encontrar a toca era mais forte. Pouco tempo depois chegamos a uma toca, procurei em meu celular fotos que tinha baixado para comparação, e naquele momento percebi que era a histórica Toca da Josefa. Eu e o Apache tiramos fotos, fizemos algumas filmagens e ficamos imaginando, como seria a provável vivência de Josefa naquele local tão extraordinário e maravilhoso. Então resolvi subir em cima da toca para ver a tão famosa vista da Praia do Camburi e a faixa litorânea de morros sentido Paraty.
Ao me deslocar para trás da toca, coloquei a mão em uma raiz que descia de cima da pedra, vi que ali habitava uma tão temida jararaca da mata. Rapidamente, pedi para o Ney me passar um galho para que pudesse retirá-la do local, sem causar nenhum mal aquele animal que tanto admiro. Obviamente registramos tudo. Ao subir na toca, a neblina tinha tomado conta da visão, infelizmente, mas não fiquei triste, pois o que eu procurava tinha encontrado.
A Toca da Josefa está situada aproximadamente 550 metros acima do nível do mar, e gastamos nesta caminhada, mais ou menos 2 horas e meia. Não se contentando com a caminhada eu e o Ney vulgo continuamos a subir mas aí já é história pra outra ocasião ……
Importante:
Para realizar trilhas, siga algumas regras básicas: Preserve a natureza, não jogue lixo na trilha, não maltrate os animais, não entre em propriedades particulares, recolha seu lixo e dê o destino certo para ele, deixe apenas pegadas, evite fazer barulho, desfrute dos sons da natureza, cuidado para não causar incêndios na floresta, planeje bem sua caminhada e informe a alguém sobre seu passeio, proteja-se do sol, mosquitos, borrachudos e mantenha-se sempre na trilha.
Se a caminhada for extensa é indispensável alguns acessórios como um calçado confortável, calça comprida leve e macia, camiseta de manga comprida por conta do capim navalha, boné, mochila impermeável com repelente, protetor solar, máquina fotográfica, muda de roupa seca, capa de chuva, agasalho, apito, toalha, lanterna, além do lanche, água e barrinha de cereal por exemplo. Preste atenção as passadas, e desníveis causados por erosões, devido às chuvas, e a utilização de um “cajado” ajuda bastante a diminuir os impactos.
Também esteja alerta para abelhas, porcos do mato e a presença de cobras peçonhentas que são muito comuns em Ubatuba e na região da Mata Atlântica, tais como a jararaca (Bothrops jararaca), coral (Micrurus Corallinus), jararacuçú (Bothrops) e urutú-cruzeiro (Bothrops alternatus), que costumam ficar no meio da trilha, especialmente em lugares que bate sol.
Sempre recomendamos fazer trilhas acompanhado de um guia credenciado, pois além de garantir mais segurança, também aproveitamos para conhecer melhor a história do local.
Lembre-se: da natureza nada se tira, além de fotos e nada se leva, além de boas lembranças!!!