Ilha do Mar Virado e o Sítio Arqueológico

Ilha do Mar Virado e o Sítio Arqueológico

A Ilha do Mar Virado está localizada na região sul de Ubatuba, é a segunda maior ilha da cidade, atrás em tamanho apenas da Ilha Anchieta, e uma de suas principais curiosidades foi a descoberta de um sítio arqueológico, que vem sendo pesquisado por técnicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP desde o início da década de 1990.

Ilha do Mar Virado - Localizado na região sul de Ubatuba
Ilha do Mar Virado – Localizado na região sul de Ubatuba

Já foram encontrados mais de 80 esqueletos humanos e 216 artefatos, entre utensílios e ferramentas. Segundo pesquisadores, estes primeiros moradores eram muito baixos, não viviam mais do que 25 anos e se alimentavam basicamente de frutos do mar.

Ilha-do-Mar-Virado
Ilha do Mar Virado – Imagem extraída do Google Maps

Os antigos dizem que a misteriosa Ilha do Mar Virado, assim se chama porque, quando alguém tenta retirar qualquer pertence de sua composição, o mar “vira” (fica bravo) ao redor de toda a ilha, impedindo assim a saída da pessoa com o objeto. E para completar o enigma, muitos pescadores já viram luzes não identificadas ao redor desta ilha que está na mesma linha imaginária da também mística Ilha Bela.

A Fazenda Marinha na Ilha do Mar Virado
A Conchal Mar Virado foi fundada em 2009, especializada e consolidada no cultivo de vieiras da espécie Nodpectem Nodosus, está localizada na Ilha do Mar Virado, uma região de Área de Preservação Ambiental – APA. A fazenda marinha ocupa a extensão de 40.000 m² de lâmina d’água e possui o sistema flutuantes, do tipo espinhel com gaiolas de engorda. Conta com uma equipe de profissionais competentes e comprometidos que atuam em uma gestão dinâmica integrada à sustentabilidade ambiental.

Fazenda Marinha Ilha do Mar Virado – Imagem de @conchalmarvirado

O objetivo é fornecer aos clientes um produto fresco de alta qualidade regularmente, comercializando as vieiras in natura, na concha, com aproximadamente 8,5 cm de diâmetro, o que correspondente a um ano e dois meses de vida do molusco. Com a produção e a logística adequada a um nível alto de exigência, considerando todas as situações em que preserve a inocuidade dos produtos, as vieiras são limpas e separadas uma a uma para entrega, seguindo todas as normas do manual de processamento do Programa Nacional de Controle Higiênico Sanitário de Moluscos Bivalves – PNCMB.

Vista aérea da Ilha do Mar Virado @caminhos.do.sup
Vista aérea da Ilha do Mar Virado – Imagem de @caminhos.do.sup

Fornecem vieiras e mexilhões semanalmente para Ubatuba e São Paulo com excelência, em grandes restaurantes e renomados programas culinários de TV. O diferencial é que ao contrário das vieiras congeladas, as vieiras in natura fornecem uma experiência de sabor peculiar, com leve textura tenra diferenciada e mais ricas em nutrientes. 

Ilha do Mar Virado – Imagem de  @conchalmarvirado

A descrição arqueológica da Ilha do Mar Virado
Com área de 119 hectares, cercada por Mata Atlântica e encostas, está situada a 2 Km do continente, e por ser próxima da costa é um lugar muito procurado para fazer passeios de jet ski, barco e muito conhecida por seus pontos de mergulho. A Ilha do Mar Virado, não tem praia, mas é possível ancorar uma embarcação, e fazer uma visita a ilha, onde alguns ranchos de pescadores existem. Algumas teorias afirmam que no passado a ilha fazia parte do continente. A ilha apresenta quatro frentes diferenciadas para a captação de recursos alimentares: o costão rochoso rico em bivalves, gastrópodes, crustáceos e equinodermos associados ao ambiente de águas marinhas circunjacentes dispondo de peixes, tartarugas e mamíferos marinhos; os ecossistemas terrestres; a mata nas encostas e o brejo na área baixa.

Constatou-se a alta disponibilidade de recursos terrestres. A arqueofauna recuperada indicou que a subsistência do grupo humano do sítio Mar Virado se moldou ao quadro da disponibilidade apresentada. O sítio Mar Virado é conchífero de formação plana, com eventuais bolsões de restos de alimentos. O sítio arqueológico registra quatro períodos de ocupação: o pré-histórico, o tupi, o europeu e o caiçara ou caboclo. As ilhas continentais são assim designadas, por terem origem da separação do continente por erosão de uma península primitiva ou de variação do nível do mar durante os períodos glaciais. A Ilha do Mar Virado, como a Ilha Anchieta e as Ilhotas de Dentro e de Fora são a continuação dos terrenos e alinhamentos das estruturas geológicas continentais.

Ilha do Mar Virado vista da Praia da Sununga
Ilha do Mar Virado vista da Praia da Sununga

Sítio arqueológico Mar Virado
O sítio arqueológico Mar Virado faz parte de um programa de arqueologia, proposto para o litoral norte do Estado de São Paulo, desenvolvido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia/USP a partir de 1982, contando com a participação de alunos da pós-graduação, e de técnicos do MAE/USP. O Programa Arqueológico visa analisar as diversas ocupações pré-históricas, dando enfoque às populações formadoras de sambaquis, e aos demais sítios costeiros de pescadores-coletores ao longo da costa paulista. Foi desenvolvida uma metodologia de campo, para o levantamento e cadastramento do sítio, para em seguida dar início a escavação considerando sua exposição à ação antrópica.

O Sítio Mar Virado encontra-se sobre um terraço de origem fluvio marinha na porção NE, numa pequena enseada da ilha do mesmo nome ao sul da ponta do Cedro, em altitude de 158 metros na latitude de 23°34’S e longitude 45°09’W. Com cota de aproximadamente 6 metros acima do nível do mar, apresenta na sua porção SE, pequeno caimento topográfico devido a erosão superficial. Desde as primeiras intervenções feitas no sítio arqueológico do Mar Virado, verificou-se a riqueza dos artefatos encontrados em superfície, ratificando as quatro ocupações distintas havidas no sítio. A partir dessas muitas estruturas em blocos de granito, foram evidenciadas: louças, metais, cachimbos, cerâmicas neo-brasileira e tupi-guarani e vidros, estes inseridos na camada argilosa do sítio.

Sítio arqueológico Mar Virado
Trabalho no Sítio arqueológico Mar Virado

As escavações do sítio foram iniciadas no final do ano 1990, conquanto já estivesse vistoriado, cadastrado e mapeado bem anteriormente. O material coletado em superfície constou de ossos de peixes, conchas, espículas queimadas de ouriço, restos humanos esparsos, líticos, cerâmica corrugada, louça e vidro. E dessa diversificação de materiais foram observadas as variações temporais da ocupação humana no sítio.

O sítio arqueológico Mar Virado, embora guarde similaridades pela sua composição com os sambaquis, difere em sua morfologia e se aproxima mais dos sítios tipo “acampamento”, com topo plano e leves declividades nas bordas. Atinge em seu ponto mais alto cerca de um metro registrando bolsões esparsos, com resíduos de alimentação. Para Simões, esse tipo de sítio nada mais é que um “sambaqui raso”, cuja definição é a melhor entre outras que conheço. No atual estágio em que se encontra a pesquisa temos registrado cerca de 5.800 artefatos confeccionados em: lítico, ossos e dentes de animais, conchas de moluscos, fragmentos de ocre, carvão e restos cerâmicos.

Ilha do Mar Virado
Ilhote de Dentro e Ilhote de Fora, vistos da Ilha do Mar Virado – Imagem de@caminhos.do.sup

Material Ósseo Humano
Torna-se possível estabelecer marcadores diferenciais entre grupos, que deixaram vestígios de formas de assentamentos e comportamentos simbólicos, associados a caracteres culturais ou socioculturais, e a traços biológicos. Os rituais funerários da população do Mar Virado, foram documentados por fotos, desenhos e registros em croquis.

O assentamento do sítio Mar Virado se deu por grupo pescador-coletor, entre os anos 1546 B.P. a 550 d.C. com permanência mais ou menos de 900 a 1000 anos. Por volta do século X, o sítio foi reocupado pelos Tupi permanecendo naquele local até o ano 1000, e no século XVI tivemos a chegada do europeu. Do século XVIII até meados do século XX tivemos a presença marcada do caiçara.

Sítio arqueológico da Ilha do Mar Virado - Ossada e a Reconstituição
Sítio arqueológico Mar Virado – Ossada e a Reconstituição

(*) Sambaqui, o que é?
O sambaqui é uma palavra de origem indígena, mais especificamente, de origem tupi-guarani e possui como significado amontoado ou monte de conchas. Os sambaquis também são conhecidos como cascais, concheiros, casqueiros e berbiqueiros. Em inglês, recebe o nome de shell-mounds. Eles são encontrados mais facilmente pelo litoral do oceano Atlântico ao invés do oceano Pacífico.

Formação dos Sambaquis
No Brasil, há cerca de 5000 anos, os sambaquis foram construídos por povos que viviam próximos as regiões litorâneas e consumiam, para a sobrevivência, os moluscos e peixes que pescavam próximos aos rios e mares. Esses povos representavam uma cultura única com seus hábitos e costumes; eram povos sedentários. Utilizavam de vários recursos como a pesca e a confecção de objetos (colares, enfeites e utensílios) com vários tipos de materiais como madeira, conchas, couro, fibra, ossos de animais (peixes, tubarões, macacos, porco-do-mato).

Esses povos descartavam as conchas de moluscos, que formavam as imensas montanhas.  Sendo assim, entendemos que os sambaquis são formações rochosas, construídas pelo homem que chegam a medir até 100 metros de diâmetro, e em sua constituição encontravam restos de animais, ossos humanos, ferramentas e materiais orgânicos, que provavelmente, eram utilizadas por esses povos. Claro, que para que essa formação tenha chegado ao que é hoje, foi necessário anos, milhares de anos para formação atual das grandes montanhas.

Os sambaquis estão espalhados por todo o mundo, como os países da Europa, da América, da África e no Brasil. Os maiores encontram-se no estado de Santa Catarina, mas podemos também encontrar os sambaquis em toda a faixa litorânea de São Paulo como em São Vicente e Iguape.

Ilha do Mar Virado
Píer na Ilha do Mar Virado – Imagem de @caminhos.do.sup

Os arqueólogos, em suas pesquisas, entendem que é bem provável que os sambaquis eram usados como abrigo ou habitações para diversas populações. Vários utensílios, objetos e ossos foram encontrados em escavações. São importantes fontes de estudo, principalmente, para entendermos a vida dos primeiros povos e como se organizavam em todo o território brasileiro, como era a alimentação e quais os conhecimentos que possuíam sobre a natureza, os animais e as doenças da época. Os sambaquis são fontes de minerais como o calcário, sendo assim, excelentes na época, para construção de casas.

Fontes de Informações:
https://www.colegioweb.com.br/biologia/o-que-sao-sambaquis.html
Estudo Publicado (arquivo.pdf) de Dorath Uchôa -Museu de Arqueologia e Etnologia/USP
https://www.google.com.br/maps
https://caminhosdosup.com.br/a-segunda-maior-ilha-de-ubatuba/