O Granito Verde de Ubatuba

O Granito Verde de Ubatuba

A preservação e o cuidado com o meio ambiente que se vê em Ubatuba em nossos dias, esconde um período caótico vivido no município entre o início da década de 1960 e o final dos anos de 1980, quando foi descoberta, acidentalmente, uma raríssima variedade de pedra ornamental, o granito verde de Ubatuba.

A descoberta do granito verde de Ubatuba
Entre 1961 e 1962, ir para Ubatuba era uma questão de status, as praias mais frequentadas eram as do Perequê-Açu e Iperoig (ou Cruzeiro). Com a expansão da cidade e o crescimento da população, algumas fazendas começaram a virar loteamentos, como foi o caso da Praia das Toninhas, que era de dois proprietários. Uma parte pertencia a Luiz Silva e a outra metade, a Mário Manzetti, que contratou uma empresa de terraplanagem, para fazer a abertura da estrada e lotear o local.

Granito verde – Imagem extraída de https://ferdinandodesousa.com/2019/03/15/a-caotica-exploracao-do-granito-verde-em-ubatuba/

Com a necessidade de aterrar algumas partes das terras com cascalho, a empreiteira viu-se na obrigação de comunicar o contratante. Este, por sua vez, revelou que suas terras iam até o final do morro, onde grande parte da estrutura era puramente rochosa, que poderiam ser utilizadas para tal finalidade. Então foi aberta uma estrada de serviço, íngreme até o sopé da Serra do Mar, onde apenas tratores eram capazes de chegar.

Para se certificar da qualidade do material, a empresa de terraplanagem enviou uma amostra ao IPT (Instituto Paulista de Tecnologia), para estudos. Para surpresa de todos, o IPT retornou dizendo que não haveria nenhum problema em utilizá-lo como cascalho, porém isso seria um desperdício, pois tratava-se do granito verde, antes encontrado somente em uma jazida na Costa do Marfim – África.

Em função dessa inesperada descoberta, ao invés de se instalar uma unidade de britagem no local e avançar com o projeto de criação de um loteamento na área, o fazendeiro montou a primeira pedreira de granito verde de Ubatuba. Esta descoberta foi de extrema importância econômica para a cidade, e rapidamente, a exploração do granito verde se transformou um dos grandes poderes do município, que entrou no comércio internacional, realizando exportação, através do Porto de Santos. Estimativas do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral (atualmente chamado de ANM – Agência Nacional de Mineração), indicam que, em 1985, as exportações de granito verde de Ubatuba responderam por 11% das exportações de pedras ornamentais do Brasil.

Praia do Guincho
Pedra de granito verde no meio da Praia do Guincho onde tínhamos um porto para transporte deste minério

Naqueles tempos, ainda não havia sido criado o Parque Estadual da Serra do Mar, apesar da maior parte dos terrenos das encostas já serem terras públicas. Sem muita fiscalização, não demorou muito a surgirem pedreiras clandestinas por todos os lados. Documentos oficiais falam de perto de 60 pedreiras nestas condições no início da década de 1980. Essas pedreiras desmatavam, desmontavam imensos paredões rochosos, muitas vezes usando dinamite, abriam estradas e tudo mais o que se fizesse necessário para atingir os locais onde se encontravam os blocos de granito verde, sem que houvesse qualquer controle ou fiscalização das autoridades.

Classificado entre as espécies de granito mais raras do mundo, o granito verde Ubatuba recebeu este nome pela sua tonalidade semelhante a da água do mar. O minério era exportado para vários países entre os quais Estados Unidos, México, Itália e Japão., manufaturados ou em placas semiacabadas trazendo bons lucros ao município e ao Brasil. Na época o granito era extraído mediante concessão do Ministério das Minas e Energia, e eram cortados em blocos cúbicos com cargas de pólvora e colocados em caminhões com o emprego de tratores e guindastes. Eram transportados para as empresas que exploravam as jazidas, onde recebiam o tratamento industrial, corte, serragem, polimento e lustração.

Blocos de granito verde Ubatuba - Imagem de Edson Silva
Blocos de granito verde Ubatuba – Imagem de Edson Silva

O fim da exploração
Em meados da década de 1980, a produção anual de granito verde foi estimada em 13 mil m³, o que equivaleria a retirada de cerca de 2.600 blocos com volume médio bruto de 5 m³. Essa intensa exploração mineral, feita da forma mais predatória possível, causou enormes impactos ambientais nas encostas da Serra do Mar na região. Com a remoção de grandes trechos de vegetação, seguido pelo desmonte e remoção de grandes blocos de rochas, as já instáveis encostas ficaram totalmente desprotegidas. Nas fortes temporadas de chuva de verão na região, aconteceram vários deslizamentos de encostadas, com vítimas fatais e enormes prejuízos para o município de Ubatuba. Por causa desses e de outros problemas, a extração do granito verde em Ubatuba foi proibida no final da década de 1980.

Para sorte das empresas do segmento de pedras ornamentais e dos consumidores, em 1972 havia sido descoberta uma jazida de granito com características geológicas semelhantes à do granito verde de Ubatuba. Esse mineral, que foi batizado como granito verde-Labrador, foi descoberto em Alto Mutum Preto, um distrito da cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo. Esse granito verde “genérico” é atualmente o único material similar ao granito verde de Ubatuba a venda no mercado.  Apesar de ter recebido seu próprio nome de batismo, essa nova pedra ornamental continua sendo chamada de granito verde de Ubatuba.

Monumento Maçon
Alguns anos depois da descoberta do granito, e em plena fase de extração e comercialização, por uma casualidade do destino, uma peça deste granito cortado caiu de um caminhão, no meio da rua, atrapalhando o translado de automóveis e de pessoas. A pedra foi retirada por integrantes da maçonaria, que nela registraram seu símbolo e tornou-a monumento, colocado bem no centro da rotatória que interliga o aeroporto e a avenida Iperoig.

Granito Verde - Monumento Maçon
Monumento Maçon em frente ao aeroporto de Ubatuba

Uma curiosidade interessante: A constatação do supercontinente Gondwana
Pelo fato de ter jazidas deste minério específico, somente em Ubatuba e na Costa do Marfim, constata-se uma forte evidência de que a América e a África estiveram unidas em épocas passadas, formando o supercontinente Gondwana, que unia a América do Sul, Antártica, África, Índia, Arábia, Madagascar, Austrália, Nova Caledônia, Papua-Nova Guiné e algumas ilhas menores. A existência deste supercontinente durou até cerca de 180-550 milhões de anos atrás.

Supercontinente - Gondwana
O supercontinente Gondwana

Gondwana, representava aproximadamente um terço dos continentes de hoje, e continha cerca de 60% dos recursos minerais do mundo. Desde o período Jurássico, em função da movimentação das placas tectônicas, Gondwana esteve em fragmentação, e por consequência, evoluiu para a configuração atual dos continentes do hemisfério sul.

Definição técnica do granito
O granito é uma rocha magmática formada de três minerais: mica, quartzo e feldspato, é normalmente encontrado nas placas continentais da crosta terrestre, é quase sempre sólido (sem estrutura internas), duro e resistente, sendo por essas qualidades usado como pedra para a construção civil, como comparação é mais duro que o mármore. Entre os diversos tipos de granito, podemos destacar o granito verde de  Ubatuba, de produção nacional, um tipo de pedra de coloração escura, podendo até ser confundida com o preto, mas nesse caso ele possui um tom esverdeado. É possível usar o granito verde Ubatuba em diversos ambientes da casa, mas as bancadas de cozinha, espaços gourmet e pias estão entre os locais em que o produto é mais utilizado, até por causa de sua ótima resistência a sujeira, arranhões, manchas e calor.

Granito Verde Ubatuba
Aplicação do granito verde de Ubatuba em piso

Em Ubatuba, as jazidas do granito verde estão preservadas pela extinção da exploração Os blocos de rocha compacta, de forma arredondada, produzido pela esfoliação tipo casca de cebola (chamado de matações), alcançam em média 300 a 400 metros cúbicos de volume, e ocorrem enterrados e semi-enterrados. São blocos de forma predominantemente tabular de arestas arredondadas e apresentam superfície rugosa e muito ondulada. A rocha é equigranular, grosseira, de cor verde-escura. Em algumas porções da rocha são observadas concentrações de minerais amarelos, formando mosaicos.

Fontes de informações::
https://pt.wikipedia.org/wiki/Granito
https://ubatubense.blogspot.com.br/2010/04/granito-verde-ubatuba.html
https://ferdinandodesousa.com/2019/03/15/a-caotica-exploracao-do-granito-verde-em-ubatuba/
https://socientifica.com.br/enciclopedia/gondwana/